"Que seja doce."(CFA)

terça-feira, outubro 31, 2006

Para D. ( Do Avesso)















"Hope there's someone
Who'll take care of me
When I die, will I go

Hope there's someone
Who'll set my heart free
Nice to hold when I'm tired"
(Hope There´s Someone, Anthony and the Johnsons)

é um sentido que se busca, um sentido
incessantemente.
como se a pele não sentisse sem os extremos
querer provar de tudo,
ver,
experimentar,
deixar-se atravessar,
sujar,
machucar,
fingir que não machuca,
continuar,
ano após ano,
tentando,
esfolando a carne de dentro
a pele do avesso cheia de cicatrizes
que falam de histórias contadas a ninguém.

ás vezes, espera
espera alguém que possa
ou consiga atravessar
todas as cercas e muros e portas
e tocar com mãos nuas
o centro, que lateja
e consertar
mas nem mesmo sabe se precisa,
se é isso mesmo
ou apenas um alívio,
uma sensação plena,
absoluta,
que pudesse fazer com que fechasse os olhos
e descansasse.
o caminho é sempre tão longo
os pés estão cansados
mas as horas passam e ninguém.
ninguém, nenhuma visão, nenhum anjo,
nenhum sinal,
que diga finalmente acabou,
vc está aqui,
finalmente está aqui.

o tempo descasca a pintura da casa
o retrato amarela,
os filhotes crescem
e vc continua,
vendo um outro mundo onde tudo se choca
inevitavelmente:
coisas, corpos, pessoas, medos, sonhos
o ruído do baque,
mas ninguém olha como vc,
ninguém gostaria de olhar como vc,
e mesmo assim, mergulhar
inteiro
nesse mundo parecendo tão caótico
tão sem lógica,
tão absurdo,
vc espera que no fundo,
que tocando o fundo
talvez exista alguma resposta
algum sentido
ou alguém que lhe toque finalmente
e desencante o que em vc
dorme um sono sem sonhos.

vc continua,
as estações mudam,
o concreto cerca a tudo,
o céu cada vez mais distante,
fantasmas de estrelas brilham nesse escuro
e vc continua,
um sentido,
uma resposta única,
uma revelação.
mas é só silêncio. silêncio. silêncio.
lá fora, é mais seguro,
as pessoas não sabem
não desconfiam
e vc as enxerga
com um misto de distância e cinismo,
porque não compreende como elas conseguem
extraírem da vida tão pouco
e parecerem tão satisfeitas.

vc prefere o risco,
de perder-se totalmente
um dia talvez seja irreversível,
á procura de um momento de êxtase.
como o dos santos.
como o dos anjos.
a compreensão absoluta,
perfeita.
redentora.
e por isso, não há descanso
ainda não pode haver qualquer descanso
porque ainda falta,
algo terrivelmente falta
e vc espera
que da próxima,
talvez a próxima,
consiga
este momento de iluminação
onde todo o caminho faça sentido
e vc possa sentir-se a salvo,
completo
inteiro
pleno.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Para os fracos da carne

"I come over early in the morning
I’m like a heat wave, without warning
And when I touch you my heart begins to flutter
Cuz you're smooth and creamy like peanut butter

Girl I wanna lay you down
(I said) girl I wanna lay you down

Take it away Zach

I'm gonna flood you, like a love river
Awe baby the post man, is about to deliver
Cook you up some dinner, a little pasta
Listen to some music, a little rasta

I said girl I wanna lay you down, oooohhh
I said girl I wanna lay you down,
(don't you no i need your love!)

So turn out the lights, bring out the candles,
wrap your arms around my love handles,
they say the passion may not always endure,
but this feeling that i have for you is burning up my world

Aweee, I said girl I wanna lay you down
(I said) girl I wanna lay you down
Girl I wanna lay you down
Girl I wanna lay you down
Girl I wanna lay you down
Girl I wanna lay you down
Girl I wanna lay you down"
( Girl I wanna Lay you down, Donavon, Jack and G. Love)

terça-feira, outubro 24, 2006

MIEDO- Lenine



"Tienen miedo del amor y no saber amar
Tienem miedo de la sombra y miedo de la luz
Tienem miedo de pedir y miedo de callar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tienem miedo de subir y miedo de bajar
Tienem miedo de la noche y miedo del azul
Tienem miedo de escupir y miedo de aguantar
Miedo que da miedo del miedo que da

El miedo es una sombra que el temor no esquiva
El miedo es una trampa que atrapó al amor
El miedo es la palanca que apagó la vida
El miedo es una grieta que agrandó el dolor

Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá

Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir

Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar

Tienem miedo de reir y miedo de llorar
Tienem miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienem miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor

El miedo es una raya que separa el mundo
El miedo es una casa donde nadie va
El miedo es como un lazo que se apierta en nudo
El miedo es una fuerza que me impide andar

Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo

Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão

Medo de fechar a cara, medo de encarar
Medo de calar a boca, medo de escutar
Medo de passar a perna, medo de cair
Medo de fazer de conta, medo de dormir
Medo de se arrepender, medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá
Miedo... que da miedo del miedo que da"

domingo, outubro 22, 2006

2:45

"would you let me walk down on your streets, naked if i wanted to?"/( vc me deixaria andar nua pelas suas ruas, se eu quisesse?) ( Cat power)

não, não é de repente.
não é súbito como um raio.
nem instantâneo.
não, não se engane.
é como abrir os olhos em alguma manhã, que vc nem sabe se clara ou cinza.
como abrir os olhos e estar livre.
ó minha mãe, minha mãe, ela não acredita que somos livres, vc sabe?
mas dentro de mim, ás vezes, meu espírito se expande de tal forma que poderia beijar a todos na testa como se pudesse amparar, curar, como se tivesse parido a humanidade inteira e deles, fosse mãe, irmã, sangue.
o mundo é do tamanho dos sentidos, aprenda.
infinito ou limitado dependendo da escolha, dependendo do medo.

tem quem brinque na sujeira,
tem quem se perca cada vez mais dentro do escuro desconhecido do coração,
esperando um alívio que nunca virá.
tem quem não se permita olhar pra cima,
menina, menina, é preciso entender de dentro cada coisa que se move sem se perder
sem querer lógicas e números,
sem equacionar absolutamente nada.

escute a música e permita que ela atravesse sua pele
e como uma corrente elétrica, percorra teu corpo,
tua carne,
até chegar ao osso
e deixe-se lentamente transformar em algo diferente do humano
vc sente dor primeiro,
uma espécie de dor ao deixar-se assim vulnerável,
ela passa,
deixe que passe, permita o som cada vez mais dentro
cada vez mais profundamente dentro
até que a noção do que vc sabe ser concreto e teu se dissipe
e vc não saiba explicar quando e onde,

fronteiras são apenas idéias tolas de limite
vc consegue agora olhar
olhar
limpo, claro, tão claro,
vc não se pergunta o motivo,
não há necessidade de motivos,
a música reverbera dentro, dentro
vc lembra de uma frase antiga dita num sonho qualquer
"o universo dança"
vc está sentada na janela, com grades
e ao mesmo tempo, vc sabe
muito distante da figura sentada na janela, com grades
vc acenaria se pudesse, mas
teme quebrar o encanto
porque dura muito pouco, embora não pareça
(tempo é coisa inventada)
mas alguém te chama, toca teu ombro e te transforma em vc novamente.
mas vc sabe agora,
a partir de agora,
vc pode sempre voltar.
vc sabe o caminho.

quinta-feira, outubro 19, 2006

Para quem adora diálogos afiados....

"Any experiment of interest in life will be carried out at you own expense"

quarta-feira, outubro 18, 2006

Quem quer saber?


ás vezes, preciso de cinco minutos apenas. cinco minutos pra lembrar. da visão que tive.
de como me sentia sentada nas escadas da Igreja no Alto de Olinda.
as mãos tocando o degrau feito de conchas e óleo de baleia.
chovia uma chuva dessas bem fina, uma brisa
e eu estava sozinha.
o mar, o mar e o sol. nenhum outro lugar no mundo me teve tão inteira, tão feliz e livre.
ás vezes, quando preciso, fecho os olhos e busco em mim, o que veio comigo, entranhando,
além do escapulário no pescoço.
cinco minutos.
e eu sinto a chuva fina.
a brisa, o mar, o sol e toda estranha energia que alguns lugares antigos costumam ter
me sinto em casa
e inteira de novo.

"Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não pára

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência

O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (Tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára(a vida não para não)

Será que é tempo que me falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (tão rara)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára(a vida não pára não...a vida não pára)" (Paciência, Lenine)

terça-feira, outubro 17, 2006

Faraway, so close ( Tão Longe, Tão perto)


"You, whom we love.../ Vcs quem nós amamos...
you do not see us./ Vcs não nos vêem.
You do not hear us./ Vcs não nos ouvem.
You imagine us in the far distance.../ Vcs nos imaginam muito distantes...
yet we are so near./ embora estejamos tão perto.
We are the messengers... / Nós somos os mensageiros...
who bring closeness to those in the distance./ que trazem proximidade aos distantes
We are not the message.../ Nós não somos a mensagem...
we are the messengers./ nós somos os mensageiros.
The message.../ A mensagem...
is Love./ é Amor.
We.../ Nós....
are nothing./ somos nada.
You.../ Vcs....
are everything to us./ são tudo para nós.
Let us dwell in your eyes!/ Deixe-nos morar em seus olhos
See your world.../ Ver seu mundo...
through us. / através de nós.
Recapture through us.../ Recapturar através de nós....
that loving look.../ aquele olhar amoroso...
once again./ de novo.
Then.../ Daí....
we'll be close to you.../ Nós estaremos perto de vcs...
and you.../ e vcs...
to Him./ Dele."
( um dos meus filmes favoritos, do Win Wenders)

segunda-feira, outubro 16, 2006

Um pensamento

não sei o motivo, ou talvez saiba e não queira escrever
tenho pensado muito nessa cena,
minto.
não tenho pensado nessa cena, mas na frase principal dessa cena,
a frase que acho mais bonita e simples
que traduz tudo
ou quase tudo
que vc possa ser ou pedir para ser.
podia ser ele ou ela
tanto faz
mas no filme é ele
que escreve na testa dela
uma espécie de lembrete
BE KIND
quer dizer
SEJA GENTIL.
ele escreve isso com caneta na testa dela.
podia ser ela ou ele
como eu disse,
tanto faz.
mas esses dias só consegui pensar nessa frase
e como as pessoas esqueceram
não todas, mas a maior parte delas
a serem gentis
ou doces
ou sinceras
ou limpas
tanto faz
BE KIND.
minhas asas estão boas agora.
as flores na boca cresceram e agora secam.
uma marca entre as outras.
a natureza é estranha.
a minha natureza também.
BE KIND.
eu pisei no chão,
tomei banho de chuva,
ri e conversei e escrevi
e as coisas ficaram novamente límpidas e claras.
BE KIND
ele ou ela, tanto faz, quem fosse
escreveu
ela chorou, perguntando: mas eu não sou gentil?
as pessoas se desconhecem na maioria das vezes
ou preferem assim.
eu não sei.

Minha vida sem mim

"This is you. /Esta é vc
Eyes closed,out in the rain./ olhos fechados, na chuva
You never thought you'd be doing something like this./ vc nunca pensou em estar fazendo algo como isso
You never saw yourself as,/ vc nunca pensou em vc como
l don't know how you'd describe it, as.../ eu não sei como descrever mas
like one of those people/ como uma daquelas pessoas
who like looking up at the moon,/que gosta de ficar olhando a lua
or who spend hours gazing at the waves or the sunset or.../ou que gasta horas olhando as ondas ou o sol se pôr ou...
l guess you know what kind of people l'm talking about /eu acho que vc sabe sobre que tipo de pessoa eu estou falando
Maybe you don't /talvez vc não saiba
Anyway, you kinda like it being like this, / de qualquer forma, vc gosta de ficar assim
fighting the cold/ lutando contra o frio
and feeling the water seep through your shirt / e sentindo a água atravessar sua camisa
and getting through to your skin./e chegar até a sua pele
And the feel of the ground growing soft beneath your feet /e sentir o chão ficar macio sob seus pés
and the smell./e o cheiro
And the sound of the rain hitting the leaves./ e o som da chuva batendo nas folhas.
All the things they talk about in the books that you haven't read./ todas as coisas que eles falam nos livros que vc não leu."
(filme lindo, que adoro rever)

segunda-feira, outubro 09, 2006

Últimas Palavras de Alice (monsieur G sempre disse me ver nela)

DAN: Where will you go?/ Onde vc irá?
ALICE: Disappear./ Desaparecer.


ALICE: Can I still see you?/ Ainda posso ver vc?
ALICE: Dan, can I still see you? Answer me.?/ Dan, eu ainda posso ver vc? Me responda.
DAN: I can't see you. If I see you, I'll never leave you./ eu não posso ver vc. se eu vir vc, eu nunca vou deixar vc.
ALICE: What will you do if I find someone else?/ o que vc vai fazer se eu encontrar outra pessoa?
DAN: Be jealous./Ter cíumes.
ALICE: You still fancy me?? /vc ainda gosta de mim?
DAN: Of course./Claro
ALICE: You're lying. I've been you. Will you hold me??/ vc está mentindo, eu já fui vc. Vc pode me abraçar?

He holds Alice, who's now crying.(Ele abraça Alice, que agora está chorando)

ALICE: I amuse you but I bore you./ eu te divirto mas te entendio
DAN: No. No./ não, não.
ALICE: You did love me??/ vc me amou??
DAN: I'll always love you. I hate hurting you./ eu sempre vou amar vc. eu odeio machucar vc.
ALICE: Why are you?/ então por que está?
DAN: Because I'm selfish. And I think I'll be happier with her./ porque eu sou egoísta, e acho que vou ser mais feliz com ela.
ALICE: You won't. You'll miss me. No one will ever love you as much as I do. Why isn't love enough?/ vc não vai ser. vc vai sentir saudades de mim. ninguém vai te amar tanto quanto eu. Por que amor não é o bastante?
ALICE: I'm the one who leaves. I'm supposed to leave you. I'm the one who leaves./ eu sou quem deixa. eu devia deixar vc, eu sou quem vai embora

She starts kissing him. (ela começa a beijá-lo)

ALICE: Make some tea, buster. /faça um chá, "cara"

He goes off to make tea, then looks back after a short while. She's not there; he runs after her, out to the street, but she's gone.(ele vai fazer chá e olha para atrás depois de um tempo. ela não está ali, ele corre atrás dela até a rua, mas ela foi embora)

domingo, outubro 08, 2006

6:25

"iniciei mil vezes o diálogo. não há jeito.
tenho me fatigado tanto todos os dias
vestindo, despindo e arrastando amor
infância, sóis e sombras" (Hilda Hilst)

é uma fraqueza, não dizem? uma fraqueza apenas. o dia amanhecendo na janela gradeada, mordo a maçã sem vontade, por obrigação. escuto a mesma música. tem vezes que canto, tem vezes que escuto muda. as pessoas, as pessoas me assustam. vc me assusta. eu ainda acordo certas noites com esta falta. é amor isso ainda? é amor e mesmo assim, não fui eu que fiz as malas?
é amor e fiz as malas.
mas o estranho é sentir que fui a última a sair da casa, a apagar a luz, fechar a porta.
todos haviam saído antes de mim, só eu permanecia, esperando, esperando.
as mulheres e sua dolorosa espera.
eu berro, choro e me despedaço nas esperas. não sei o motivo, simplesmente minha natureza não aceita irresolução.
coisa pior que a morte.
"me paga uma bebida"
"qual é teu nome?"
"qualquer coisa estúpida"
os mesmos brinquedos. os mesmos, as mesmas. os poemas riscados no livro, riscar um xis no lugar do peito. tem dias que sorrio como quem não viveu nada, tem dias que não consigo lembrar. tem vezes que não faz a mínima diferença porque as coisas se movimentam ao meu redor, rápidas e chamam meu nome.
admiro certa frieza, eu sou passional e fora de contexto. falo o que sinto, entre silêncios, porque certas palavras não devem ser ditas no escuro, quando amanhece e estar sozinho lateja.
falam que o tempo...
"natural é perder", sim, sim, mordo a ponta da caneta.
alguns mapas nunca são descobertos mesmo quando descansam dentro de sacos plásticos em gavetas. o melhor seria não deixar rastro qualquer, ser quase índio pisando leve na terra como se fosse parte de tudo.
mas quase todos eles morreram, não é?
mas quase tudo morre mesmo.
mesmo que demore, tudo morre inevitavelmente.
por isso, acordo certas noites como esta e espero que vc esteja acordado.
alguém disse: "é só uma estrela, só isso"
fechei os pulsos, mordi a boca, latejava, latejava.
eu queria ser uma dessas pessoas comuns, tranquilamente apáticas.
minto. não tanto como gostaria. ou finjo que gostaria.
doeu a tua falta, subitamente. forte como se deixasse de respirar.
assim dói menos, no silêncio. fingir de morto, brincar de estátua.
pa-ra-do.
mas eu me mexo demais e perco.

quinta-feira, outubro 05, 2006

NO- Shakira


http://www.youtube.com/watch?v=HFG1CN3Yo9U

Letra traduzida dessa música triste e lindíssima:

"Não, não tente se desculpar
Não volte a insistir
As desculpas já existiam antes de você

Não, não me olhe como antes
Não fale no plural
A retórica é sua arma mais letal

Vou te pedir que não volte mais
Sinto que você ainda me causa dor aqui
Por dentro

E que na sua idade já saiba bem o que é
Partir o coração de alguém assim

Não se pode viver com tanto veneno,
A esperança que me deu seu amor
Ninguém mais deu,
Te juro, não minto

Não se pode viver com tanto veneno
Não se pode dedicar a alma
A acumular tentativas
Pesa mais a raiva que o cimento.

Espero que não espere que eu te espere
Depois dos meus 26
A paciência já me esgotou.

E vou despetalando margaridas
E olhando sem olhar
Para ver se assim, você se irrita e se vai

Vou te pedir que não volte mais
Sinto que você ainda me causa dor aqui
Por dentro

E que na sua idade já saiba bem o que é
Partir o coração de alguém assim

Não se pode viver com tanto veneno,
A esperança que me deu seu amor
Ninguém mais deu,
Te juro, não minto

Não se pode morrer com tanto veneno
Não se pode dedicar a alma
A acumular tentativas
Pesa mais a raiva que o cimento. "

quarta-feira, outubro 04, 2006

Vingança Feminina

http://www.youtube.com/watch?v=D_jjuCfdksQ
uma delícia para rir.
para meninas especialmente malvadas
Smile da Lily Allen.

Domino Harvey

"Heads you win,Tails you die"
(um estado de espírito)

segunda-feira, outubro 02, 2006

Na carne

"Heartache and pain babe/ Coração partido e dor, babe
They know my name right now/ sabem meu nome agora
And they’re calling me/ e estão me chamando
Underneath the ground as my final place/ abaixo do chão como meu lugar final
Oh how you love me, anyway/ oh, como vc me ama, de qualquer forma "

cinco da manhã. lateja. cinco da manhã e lateja.
não importa o quanto tenha visto de horror na tela, na vida alheia,
décadas e décadas de massacres silenciosos
séculos.
lateja ainda, como se não pudesse disfarçar.
fisicamente, dentro, onde não se pode tocar, onde não se pode apontar
onde não se pode apagar com qualquer lágrima.
cinco da manhã e dentro, tanto, tanto, lateja.
mordo a boca, me recuso, folheio a revista no escuro,
finjo construir um sonho onde seja outra e forte
inacessível
intocável
indevassável
mas sou eu, apenas eu, no escuro do quarto empoeirado
ás cinco da manhã.

"Distance my friend/ Distância meu amigo
Is closer when you reach the end/ é maior quando vc chega ao final
Between time and space/ entre tempo e espaço
I can’t erase/ eu não posso apagar "

as ruas abandonadas,
a intensa solidão da cidade
sólida e densa como o asfalto
pálpavel quando ando para casa
e observo a sombra dos meus passos
e conto minutos como quem não sabe o que dizer
a si mesmo
as ruas, o concreto, as luzes, a sujeira acumulando nos cantos,
o homem dentro da cabine,
a mulher louca que pragueja em voz alta
dentro dos meus olhos, cabe tanto
e mesmo assim, não desvia a atenção
para o que lateja na volta para casa
que percebo não é casa
minha casa é minha carne
nada além dela,
nada além de mim.

"It’s a long road out of here/ é um longo caminho fora daqui
Don’t leave the light on/ não deixe a luz acesa
I ain’t comin’ home/ não estou voltando para casa
You gotta be strong/ vc tem que ser forte"

todos tem tanta compaixão
e histórias tristes para dividir
e finais de coisas que eram preciosas e agora não mais
trazem sorrisos estranhamente tranquilos
como se soubessem o segredo de carregar tesouros que não interessam a ninguém
mas guardo minhas mãos quebradas dentro dos bolsos
meu sorriso quebrado,
minha figura em pedaços
do avesso,
ninguém desconfia porque sorrio e falo a língua deles
mesmo longe demais
mesmo sem fazer sentido algum

"It’s a long road out of here / é um longo caminho fora daqui
But when you love me like you do/ mas quando vc me ama como vc faz
Makes it hard for me to leave you/ faz com que seja mais difícil deixar vc"

aprendi a olhar pra cima
sem contar estrelas
aprendi sobre voar
sem entender sobre pássaros
mas sobre a carne,
e o que fazem com ela,
aprendi deixando-me exposta
ao saque, ao ataque, ao toque
a ser dilacerada,
e mesmo assim esperar
alguém com a maneira correta
de morder pétalas sem marcá-las
mas o que não aprendi foi a obedecer ás portas fechadas
saltando janelas e cercas
sobrevivendo
caminhando
pelas ruas
sem temer a chuva, o corte, o mal
não sei explicar os meus sentidos
nem minhas certezas
nem meu amor que se esvai
lentamente
como uma ferida aberta escorrendo
sem coagular o rasgo,
meu corpo falha e se mantém
caminhando
respirando
sem que eu saiba como e por quê.

"And you carry all the weight of the world in your hands/ e vc carrega todo o peso do mundo nas mãos
And you’re giving all the love you never thought you had / e vc está dando todo o amor que vc nunca pensou em ter
And all we know to believe/ e em tudo que acreditamos
Is closing the eyes on all my dreams/ está fechando os olhos para todos os meus sonhos
I guess I’ll just wander on and on/ acho que vou vagar e vagar
Oh, I guess I’ll just wander on and on/ acho que vou vagar e vagar"

La Vida secreta de las palabras

(um filme lindo)

Josef: I thought um, you and I, maybe we could go away somewhere. Together. One of these days. Today. Right now. Come with me. ( eu pensei que, vc e eu, talvez pudéssemos ir para algum lugar. Juntos. Em um desses dias. Hoje. Agora. Venha comigo)
Hanna: No, I don't think that's going to be possible. (não, eu não acho que isso seja possível)
Josef: Why not? (por que não?)
Hanna: Um, because I think that if we go away to someplace together, I'm afraid that, ah, one day, maybe not today, maybe, maybe not tomorrow either, but one day suddenly, I may begin to cry and cry so very much that nothing or nobody can stop me and the tears will fill the room and I won't be able to breath and I will pull you down with me and we'll both drown. (hum, porque eu acho que se formos para algum lugar juntos, tenho medo que, ah, um dia, talvez não hoje, talvez, talvez nem amanhã, mas um dia de repente, eu possa começar a chorar e chorar tanto que nada ou ninguém possa me parar e as lágrimas vão encher o quarto e não serei capaz de respirar e puxarei vc para baixo comigo e nós dois nos afogaremos)
Josef: I'll learn how to swim, Hanna. I swear, I'll learn how to swim. ( eu aprenderei a nadar, Hanna. Eu juro, eu aprenderei a nadar)