"Que seja doce."(CFA)

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Sertão

não, vc não sabe nada quando me odeia.
vc não sabe nada.
vc não sabe nada quando me olha e imagina que tudo bem, vc pode se dar ao luxo de perder, de cair, de inventar culpas. mais uma desculpa, boneca? vc não se cansa, o circo montado e vc continua, como se o número fosse novo e ninguém soubesse o que vem depois??

eu não quero amor de cão. nem teus filhos, nem nada disso. não quero ter tuas raízes plantadas no meu chão. promessas, palavras, beber dessa mesma taça dias seguidos, cansar, cansar do mais do mesmo gosto da mesma bebida servida sempre, sempre tarde demais para matar a minha sede.

na minha alma era sempre sertão.
vc não sabe nada. nem vc, vc que gosta de fingir que nem. é a carne. só a carne? eu não sou um vaso, me recuso a essa identidade de coisa, assim, imposta pelo desejo de qualquer. sempre um qualquer e o desejo me tornando alguma outra que parte.
na minha alma era sempre sertão. a garganta seca. os olhos ardendo. a pele do avesso secando, sufocando o calor e nem sinal de água, nem sinal de chuva, nem.
mas ele vem. ele. eu que não esperava. ele. no meio do deserto. ele.
vc quer que te peça desculpas por ter mentido? mas eu jurava que era amor quando não era. era vontade de ter amor, ser como nos filmes, enquanto não olhava teu rosto de frente pra dizer: não, isso não é amor, mas fome. a fome da espera me jogou contra vc como a corrente joga contra as pedras. machuca, arranca a pele, quase fatal.
mas ele. aplaca a minha sede. acalma minha natureza de extremos. não arde.
ele. no meio do deserto, chove. é um milagre. o sertão vira mar, mãe?
eu não sei, eu não sei, mas quando ele se despede, as ondas me embalam pra dormir.
quando ele não está, tenho o mar.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

sudden

usar um método estranho, de conseguir e deixar o que se consegue.
não vale nada, não importa? vc não queria tanto, não pediu e mesmo assim, mesmo assim,
as garrafas retornam vazias sem mensagens....eu lembro de uma outra época, onde as cercas pareciam menores.
não, os anos não me tornaram menor, entenda, apenas percebia diferente: o ritmo era outro, mais cadenciado, mais simples de seguir. não havia tanto barulho.
as pessoas não dormem mais. não dormem e não sonham. se sonhassem, mesmo acordadas, elas não teriam esse olhar embaçado, essa necessidade estranha de julgar tudo. coleciono frases erradas. guardo como se fossem pedaços de vidro que estragaram na fábrica e deixaram de se tornar copos, para serem apenas resto, um quase objeto. ouço o zumbido das frases como se elas fossem insetos que batessem na janela. insetos cegos. palavra e intenção: um abismo entre e as línguas não cansam.
a vida não tem começado tarde? ou cedo demais? a vida tem começado de qualquer forma, antes mesmo de conseguirmos entender. antes mesmo de aprendermos a respirar. a vida é como um tiro, para quem range os dentes. a vida é como um piscar de olhos, pra quem suspira. a vida é um relampejar, para quem sente demais.
no meio da seca, ele. a sede parece encher a garganta de areia, ele sopra e os grãos desaparecem, faz mágica e nem sabe: ele.
no meio do deserto, ele: abre os braços e nasce do Nada, tanta vida que transborda, um oásis. ele.
o cheio de mar vem até aqui, nos alcança. nos protege? nos guarda? nos purifica? temos o coração fechado por nossas mãos em concha. aqui o Mal não pode. aqui não. aqui só eu. ele. nós.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Drifting

ele não acredita.
é preciso atravessar a noite e a carne, as sombras persistem fazendo companhia quando não precisamos de mais estranhos para afastar-nos da verdade.
um pouco mais de silêncio, um pouco mais de tempo. falar de coisas que ninguém se importa, eles dizem que parece tarde demais, não acredito em nada além dos meus sentidos (vezes que finjo não porque não gosto de maus presságios, mesmo quando certos). Eles não conseguem ver além daquela cerca, vc sabe, ninguém tem culpa.
se segurar sua mão e olhar bem dentro, o mais insuportavelmente dentro, poderia tocar isso que te dói, isso que te sangra, envenena e conta mentiras amargas a respeito de quem vc é. mas se fizesse isso, poderia me perder tentando encontrar a saída do seu labirinto, estaria vivendo em seu lugar e não posso o peso de ser além das muitas que já sou.
mesmo assim, seguro sua mão enquanto vc se debate, enquanto vc se defende de si mesmo e tudo que desconhece ainda dentro.
todas as escolhas que fiz me tornam quem eu sou e gosto de quem sou em alguns dias. em outros, respiro fundo e tento entender que ainda falta tanto a perceber, aprender e sentir, ainda sou verde e espero minha hora.
mas todas as horas são minhas se consigo acreditar um pouco mais que existe escolha.
quero estar aqui. preciso estar aqui. onde vc está agora quando te vejo? porque me deixa aqui fora, ás vezes, quando bato na porta, como se não houvesse nada a ser dito? e bato e bato e bato até que vc me atenda e mostre de novo seu rosto e possa me sentir iluminada por dentro e te contar que..... se vc acreditar em tudo que digo, que milagre seríamos? que milagre ousaria entre nossas peles?
(ele é dourado como uma lembrança antiga da infância)

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Bob Dylan

"All right, I'll take a chance, I will fall in love with you / tudo bem, eu vou tentar, eu vou me apaixonar por vc
If I'm a fool you can have the night, you can have the morning too. / se eu sou um tolo, vc pode ter as noites, vc pode ter as manhãs tb.
Can you cook and sew, make flowers grow, / vc pode cozinhar e costurar, fazer flores crescerem,
Do you understand my pain? / vc entende minha dor?
Are you willing to risk it all / Vc está querendo arriscar tudo
Or is your love in vain?/ ou o seu amor é em vão? " (Is your love in vain)