"Que seja doce."(CFA)

terça-feira, junho 28, 2005

Nove canções

(ouvindo Franz, Killers, Jet)

Quando sentamos nas primeiras filas, quando você tira o casaco mesmo estando frio, quando na pista de dança consigo sentir de olhos fechados o seu sorriso, quando você volta na enésima despedida prometendo o último beijo, quando tatuo teu nome nas minhas costas e você me pede em casamento, quando você me levanta no meio da rua, quando perco o ar de tanto rir, quando consigo dormir horas inteiras sem sobressalto, quando ficamos em silêncio e sorrimos, quando você sabe o que meu olho diz quando fico muito tempo te olhando: consigo ouvir música. Isso é a chave do encanto, meu bem: música. Variando de ligeira a bem lenta, como um piscar preguiçoso dos olhos quando acordamos. Ouço música quando estamos juntos. Assim sei pelos sentidos que esse é meu caminho: música tocando dentro de mim.
Mais, apenas a você poderia dizer porque Amor também é recato(E música).

terça-feira, junho 21, 2005

Valentine

"Yet You're My Favorite Work Of Art
Is Your Figure Less Than Greek
Is Your Mouth A Little Weak
When You Open It To Speak
Are You Smart
Don't Change A Hair For Me
Not If You Care For Me
Stay Little Valentine Stay
Each Day Is Valentine's Day" ( My funny Valentine, Chet Baker)
Chove. Acordo cedo demais. Vejo a chuva pela janela e ouço o barulho dos pingos no telhado. Chet Baker toca My Funny Valentine, automaticamente a lembrança de uma dança no escuro do quarto em uma sexta qualquer...sussurros da letra no ouvido, rostos próximos que sorriem sem dentes. Toda vez que, cada vez que, tanto e não há medida para, é preciso reinventar então uma maneira de se viver sem que ninguém consiga perceber que trago a alma encantada. Saber que toda noite encontro santuário (“e não disse nada sobre amor- essa palavra luxo”), viver sem que a espera torture...quando amanhece um dia como esse, devíamos ter licença para, apenas isso, licença para e nada além disso. Tenho um silêncio com nome (o teu) para quando não consigo escrever o que penso e sinto quando vejo as fotos na cabeceira da cama, as fotos que trago na memória e apenas consigo olhar a chuva (que cresce), aumentar o volume da música e sonhar acordada.

quinta-feira, junho 16, 2005

Dengo

Sempre acho que você deveria estar aqui quando perco o sono....

quarta-feira, junho 15, 2005

Vida fora de casa

Acorda, refaz itinerários, não se prende a mapas, não se prende a memória. Pensa uma coisa de cada vez ou tenta, pelo menos. Não fuma, não bebe, diz sim para as coisas certas(ás vezes, sabe quais são). Beija quem ama no final da tarde, com o alívio doce de quem encontra(finalmente). Lava roupas brancas como passatempo. Cantarola pela rua quando o dia é de sol e não pode ir á praia. Descobre algo belo no familiar, relê seus poetas com carinho no quarto ás duas da tarde. Corta os cabelos porque pesam, torna sua cabeça mais leve (gosta de imaginar isso). Ri aberto e limpo quando em boa companhia. Não sabe mais conviver com quem não gosta, prefere andar só quando está triste.

Quer ter mais compaixão com gente covarde ou falsa(mas ainda não consegue), afinal, alguns só nasceram para caminho batido. Não se decide sobre sua cor favorita, se rosa ou azul. Gosta do cheiro do mar na pele. Reza sem saber rezar quando vai dormir, tem saudades resignadas de um Antes (ah, o dourado da infância). Quer conhecer outros lugares ensolarados como este, a cidade laranja. Aprender outras línguas, além das que sabe. Quer sentir sem entender e não surtar por causa disto. Passar a vida estando inteira em cada momento, atenta. Mentir cada vez menos. Acolher sem perder-se cada vez mais. Dormir algumas tardes inteiras do lado de quem se sente naturalmente protegida e que a acorda com beijos na testa. Fazer amigos que saibam a diferença entre o que aparentamos e o que realmente somos(já fez alguns). Perdoar abusos, roubos, mentiras e decepções(indisfarçavelmente, uma tarefa das mais árduas para uma natureza passional como a sua) e trazer a alma liberta. Amar respirando fundo, sem medo. Fazer bem o quanto e enquanto puder.Morrer como um pássaro, sem arrependimentos.

sexta-feira, junho 10, 2005

"Hay tantas cosas / yo sólo preciso dos: mi guitarra y vos"

"Tu boca roja en la mía,
la copa que gira en mi mano,
y mientras el vino caía
supe que de algún lejano
rincón de otra galaxia,
el amor que me darías,transformado,
volvería un día a darte las gracias.

Cada uno da lo que recibe
y luego recibe lo que da,
nada es más simple,
no hay otra norma:
nada se pierde,todo se transforma.

El vino que pagué yo, con aquel euro italiano
que había estado en un vagón
antes de estar en mi mano,
y antes de eso en Torino,
y antes de Torino, en Prato,
donde hicieron mi zapato
sobre el que caería el vino.

Zapato que en unas horas
buscaré bajo tu cama
con las luces de la aurora,
junto a tus sandalias planas
que compraste aquella vez
en Salvador de Bahía,
donde a otro diste el amor
que hoy yo te devolvería......

Cada uno da lo que recibe
y luego recibe lo que da,
nada es más simple,
no hay otra norma:
nada se pierde,todo se transforma." ( Jorge Drexler)

As linhas que importam

As linhas da sua mão nunca li, não temos tempo? O Tempo se esconde nos bolsos antes que acenda o cigarro. Não fumo, não brindo fogo nas noites em que me encontro perdida, seguro sua mão, andamos para casa. Todos os dias, lembrar do Real, levantar, fazer mapas, encontrar saídas, respirar fundo, esconder-se ou revelar-se ao Sol lá fora, tem vezes que não consigo, o corpo arde uma urgência que desconheço origem. De impulso em impulso, atravesso noites, horas. Quando você chega, as sombras se encolhem ou se transformam, tudo descansa depois de exaustivas voltas no mesmo lugar. A mesma mão que não leio, acarinha meu rosto, passeia por minhas costas, penteia meus cabelos em tranças. Somos tão fáceis que ás vezes temo não sabermos de qualquer fatalidade (existiria qualquer coisa terrível possível de pairar em nossos encontros? não, não creio), estamos fadados a uma boa estrela, a um caminho estranho ao que pensava ser amor/desejo/paixão, confesso baixo não ter aprendido nada sobre pisar um chão sem espinhos, pedras, pontas e você sorri de modo tão claro, de claridade tão mansa, que adormeço em seus braços, mergulhada em um mar de morna luz.

quinta-feira, junho 02, 2005

"Certo, mas você quer escrever?"

"Zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheira esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é a questão da honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever?Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito/ diz pra ti o que não gostas de ouvir/ diz tudo".Isso é escrever. Tira sangue com as unhas.E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega?Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que á a única coisa que póde nos salvar da loucura, d suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida." ( Caio Fernando Abreu, Caio 3-D, O Essencial da década de 1970)