Vida fora de casa
Acorda, refaz itinerários, não se prende a mapas, não se prende a memória. Pensa uma coisa de cada vez ou tenta, pelo menos. Não fuma, não bebe, diz sim para as coisas certas(ás vezes, sabe quais são). Beija quem ama no final da tarde, com o alívio doce de quem encontra(finalmente). Lava roupas brancas como passatempo. Cantarola pela rua quando o dia é de sol e não pode ir á praia. Descobre algo belo no familiar, relê seus poetas com carinho no quarto ás duas da tarde. Corta os cabelos porque pesam, torna sua cabeça mais leve (gosta de imaginar isso). Ri aberto e limpo quando em boa companhia. Não sabe mais conviver com quem não gosta, prefere andar só quando está triste.
Quer ter mais compaixão com gente covarde ou falsa(mas ainda não consegue), afinal, alguns só nasceram para caminho batido. Não se decide sobre sua cor favorita, se rosa ou azul. Gosta do cheiro do mar na pele. Reza sem saber rezar quando vai dormir, tem saudades resignadas de um Antes (ah, o dourado da infância). Quer conhecer outros lugares ensolarados como este, a cidade laranja. Aprender outras línguas, além das que sabe. Quer sentir sem entender e não surtar por causa disto. Passar a vida estando inteira em cada momento, atenta. Mentir cada vez menos. Acolher sem perder-se cada vez mais. Dormir algumas tardes inteiras do lado de quem se sente naturalmente protegida e que a acorda com beijos na testa. Fazer amigos que saibam a diferença entre o que aparentamos e o que realmente somos(já fez alguns). Perdoar abusos, roubos, mentiras e decepções(indisfarçavelmente, uma tarefa das mais árduas para uma natureza passional como a sua) e trazer a alma liberta. Amar respirando fundo, sem medo. Fazer bem o quanto e enquanto puder.Morrer como um pássaro, sem arrependimentos.
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