Brown Bunny
(ouvindo Gloria-de Coralie Clément, lembrando do filme que assisti no festival de cinema de 2003e pensando em várias coisas)
Não, nem sempre acontece das pessoas serem estranhas ao segundo olhar. Certos dias, olho bem dentro do olho de desconhecidos e tento reconhecer o que em mim é irmandande ou rejeição. Certos dias ensolarados, perdoô fraqueza, tolero covardias: o Sol me impede de lidar com as sombras, o cheiro do mar tão perto me distrai do cheiro sujo das ruas do bairro. Quando chove, me irrito molhando meus pés nas poças, desacostumada que estou ao tempo que trazia no seu cinza, uma melancolia naturalmente agradável aos meus sentimentalismos. Não procuro respostas, mas as perguntas certas. Faz toda diferença. Como esperar você sabendo que minha voz te sussurra entre o silêncio das frases: me encontre, preciso de calor. Sabendo que você virá de qualquer forma, mesmo que com todas as letras, peça o contrário: você ouve no espaço entre vogais, consoantes, na minha respiração, um pedido.
As histórias tristes são apenas histórias tristes, não sei ainda se contarei-as todas á Marina e/ou Marcelo, quando eles vierem. Talvez seja melhor protegê-los das dores que sofremos para que sofram sem qualquer herança. Não gosto de ter herdado medos, mas encaro-os todos como águia ou pantera(está em um livro perdido, a fera enjaulada andando de um lado ao outro, consciente de sua prisão e ansiando não mais roer as próprias garras). Você sorri. Você sempre sorri mesmo quando dói para que me sinta segura. Calada, te observo horas e horas até que seu rosto desapareça e se torne o Rosto. Envelhecer faz o sorriso criar vincos como se fosse um vestido que subimos para mostrar as pernas. Mostro-lhe as marcas nas canelas, os rasgos brancos na pele dourada. Você balança a cabeça, corpo apoiado na janela, abaixa as persianas mais uma vez e me beija. E imagino que seja mesmo assim, pra sempre, por enquanto, pra sempre, essa paz
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