"Certo, mas você quer escrever?"
"Zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheira esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é a questão da honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever?Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito/ diz pra ti o que não gostas de ouvir/ diz tudo".Isso é escrever. Tira sangue com as unhas.E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega?Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que á a única coisa que póde nos salvar da loucura, d suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida." ( Caio Fernando Abreu, Caio 3-D, O Essencial da década de 1970)
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