"Que seja doce."(CFA)

domingo, agosto 30, 2009

Mais simples

posso passar a tarde aqui, dizendo coisas.
com as mãos no queixo, ás vezes, tirando o cabelo dos olhos, sorrindo de lado, porque eu sei que você quer entender, sei que você gostaria de me seguir até minha rua, me colocar para dormir depois da minha voz falhar.
sei que o que faz você querer me seguir é esse meu jeito de dizer coisas assim como quem não sabe a gravidade do que diz, porque afinal ninguém mais parece ter vontade de dizer nada, as pessoas mastigam as mesmas palavras todos os dias. e vc me olha pensando se ás vezes, só ás vezes, não devo deixar alguém entrar nem que seja por algum tempo...

vc sente. eu sei que você sente pelo jeito que ás vezes parece querer fechar os olhos quando digo algo que te agrada, imagina que talvez, talvez deixe você ficar mais um pouco.
atenção é como o sol em dia frio. como nas escadarias daquela cidade, onde eu aguardava o sol da manhã fria e meus cabelos ficavam transparentes no colo dela. vc não sabe, não tem como saber.
não posso tirar o sol de mim, não posso recusar iluminar vc. mesmo que saiba o que isso significa, agora, aqui, eu sei que todas as saídas não parecem fazer sentido.
mas nada fez muito sentido ultimamente. vc não sabe e não posso contar.

não vou mentir para vc. mesmo aqui, agora, dizendo coisas, não posso mentir para vc. vc que estica sua mão e toca a minha porque insisto em não te olhar agora.
vc tem olhos parecidos com os meus, olhos que afogam. e sei do risco de olhos assim por tê-los pregados no rosto. não se debruce no poço....
vc não me pergunta, apenas diz baixo: vc não gosta de olhar de frente.
sorrio, pois eu sei o que me custa não olhar vc assim, aberto, provocativo.
não vou mentir para vc: eu tenho evitado tudo.
adianta?, vc fala mais baixo ainda.
não, a vida não respeita muito essas vontades.

poderia passar a tarde aqui, dizendo coisas, vc sabe. vc sabe quando me despeço.
poderia continuar aqui e deixar que vc me encantasse e garantisse que nada nada pode me alcançar agora. que estou a salvo nesse domingo absurdamente ensolarado.
mas, por enquanto, vc também não irá mentir para mim....
?

(*escrito ouvindo Esconderijo, de Ana Canãs)

sábado, agosto 15, 2009

Wild


"Love me love me love me
Say you do
Let me fly away with you
For my love is like
The wind
And wild is the wind" (Cat Power)
já houve um tempo em que havia sempre algo que faltava lhe dizer. algo que faltava apontar e explicar, repetir, insistir.
o grito substituía a fala.
o choro substituía a fala.
eu era minúscula e odiosa e assustada.
não conseguia entender: no meu mundo, é tudo estranhamente claro. sem sombras. o que sinto é claro como o sol no centro do céu azul, meio dia.
Não poderia deixar alguém que ainda era tão absolutamente amado. eu não poderia deixar você. não poderia fingir que era apenas um corpo, sem nome. não poderia deixar de pensar na sua rotina, no cheiro do seu pescoço, na sua pele, seu sorriso.
e doía.
não como se alguém tivesse morrido. mas como se alguém tivesse decidido que afinal, não era tão importante. que era possivel abrir a porta, arriscar perder, afastar-se.
meu amor de grandes cenas, heróico, cinematográfico, Meu amor.
era completamente absurdo que alguém pudesse, que você pudesse.
era intolerável.
mas era possivel. era real.
e aconteceu.
aconteceu como não esperava, como não queria: aconteceu lentamente, entre filmes e livros e minhas corridas de madrugada, entre os sorrisos que você não viu, conversas que não tivemos.
aconteceu entre o espaço dos abraços, dos beijos, das palavras, do calor que esperava vir de você. mas que não tinham mais espaço.
você me acostumou a sua ausencia. a sua falta.
me acostumou a não esperar que você, meu companheiro de tantas, chegasse.
a ter certeza que você vivia, escolhendo viver do outro lado da cidade, onde eu não te alcançaria.
a ter certeza que não nos encontraríamos, por mais que ainda buscasse você com os olhos nos lugares, ainda uma parte de mim esperasse você chegar...... mas esta parte, exaurida, cansada, ia pouco a pouco desistindo de procurar, de doer, de pensar que talvez você ainda pudesse.
aconteceu.
aconteceu.