"Que seja doce."(CFA)

quarta-feira, maio 25, 2005

Brown Bunny

(ouvindo Gloria-de Coralie Clément, lembrando do filme que assisti no festival de cinema de 2003e pensando em várias coisas)

Não, nem sempre acontece das pessoas serem estranhas ao segundo olhar. Certos dias, olho bem dentro do olho de desconhecidos e tento reconhecer o que em mim é irmandande ou rejeição. Certos dias ensolarados, perdoô fraqueza, tolero covardias: o Sol me impede de lidar com as sombras, o cheiro do mar tão perto me distrai do cheiro sujo das ruas do bairro. Quando chove, me irrito molhando meus pés nas poças, desacostumada que estou ao tempo que trazia no seu cinza, uma melancolia naturalmente agradável aos meus sentimentalismos. Não procuro respostas, mas as perguntas certas. Faz toda diferença. Como esperar você sabendo que minha voz te sussurra entre o silêncio das frases: me encontre, preciso de calor. Sabendo que você virá de qualquer forma, mesmo que com todas as letras, peça o contrário: você ouve no espaço entre vogais, consoantes, na minha respiração, um pedido.

As histórias tristes são apenas histórias tristes, não sei ainda se contarei-as todas á Marina e/ou Marcelo, quando eles vierem. Talvez seja melhor protegê-los das dores que sofremos para que sofram sem qualquer herança. Não gosto de ter herdado medos, mas encaro-os todos como águia ou pantera(está em um livro perdido, a fera enjaulada andando de um lado ao outro, consciente de sua prisão e ansiando não mais roer as próprias garras). Você sorri. Você sempre sorri mesmo quando dói para que me sinta segura. Calada, te observo horas e horas até que seu rosto desapareça e se torne o Rosto. Envelhecer faz o sorriso criar vincos como se fosse um vestido que subimos para mostrar as pernas. Mostro-lhe as marcas nas canelas, os rasgos brancos na pele dourada. Você balança a cabeça, corpo apoiado na janela, abaixa as persianas mais uma vez e me beija. E imagino que seja mesmo assim, pra sempre, por enquanto, pra sempre, essa paz

segunda-feira, maio 23, 2005

O que deixamos de ver porque não vamos além das cercas

(Da conversa boa que tive com um amigo muito querido no sábado na Casa Rosa, tiramos a mesma conclusão da minha descoberta pessoal de quanto sempre fui preconceituosa- achando que não era- em relação a certos grupos: o mundo é bem mais, "um passo a frente e vc não está mais no mesmo lugar" e essa música cabe certinho)

"tire o seu piercing do caminho
que eu quero passar com a minha dor

pra elevar minhas idéias não preciso de incenso
eu existo porque penso tenso por isso insisto
são sete as chagas de cristo
são muitos os meus pecados
satanás condecorado na tv tem um programa
nunca mais a velha chama
nunca mais o céu do lado
disneylândia eldorado
vamos nós dançar na lama bye bye adeus gene kelly
como santo me revele como sinto como passo
carne viva atrás da pele aqui vive-se à mingua
não tenho papas na língua
não trago padres na alma
minha pátria é minha língua
me conheço como a palma da platéia calorosa
eu vi o calo na rosa
eu vi a ferida aberta
eu tenho a palavra certa pra doutor não reclamar
mas a minha mente boquiaberta
precisa mesmo deserta
aprender aprender a soletrar

não me diga que me ama
não me queira não me afague
sentimento pegue e pague
emoção compre em tablete
mastigue como chiclete jogue fora na sarjeta
compre um lote do futuro cheque para trinta dias
nosso plano de seguro cobre a sua carência
eu perdi o paraíso mas ganhei inteligência
demência felicidade propriedade privada
não se prive
não se prove
dont't tell me peace and love
tome logo um engov pra curar sua ressaca
da modernidade essa armadilha
matilha de cães raivosos e assustados
o presente não devolve o troco do passado
sofrimento não é amargura
tristeza não é pecado-
lugar de ser feliz não é supermercado

o inferno é escuro não tem água encanada
não tem porta não tem muro
não tem porteiro na entrada
e o céu será divino confortável condomínio
com anjos cantando hosanas nas alturas
onde tudo é nobre e tudo tem nome
onde os cães só latempra enxotar a fome
todo mundo quer quer
quer subir na vida se subir ladeira espere a descida
se na hora "h"o elevador parar
no vigésimo quinto andar der aquele enguiço-
sempre vai haver uma escada de serviço

todo mundo sabe tudo todo mundo fala
mas a língua do mudo ninguém quer estudá-la
quem não quer suar camisa não carrega mala
revólver que ninguém usa não dispara bala
casa grande faz fuxico
quem leva fama é a senzala
pra chegar na minha cama
tem que passar pela sala
quem não sabe dá bandeira
quem sabe que sabia cala
liga aí porta-bandeira não é mestre-sala
e não se fala mais nisso mas nisso não se fala" (Piercing, Zeca Baleiro)

terça-feira, maio 17, 2005

Lenha

(Para Paulo)
Talvez esteja no cheiro, talvez esteja no gosto, no suor ou no gostar de perder-se assim, devagar, dentro do outro. Talvez no jeito de olhar dentro e sorrir para outro sorriso que entenda o encontro. São quase cinco da manhã, eu ainda não sei o que dizer, queria te escrever qualquer coisa assim que ficasse suspensa, no ar, como um momento de iluminação ou êxtase, não sei, alguma coisa, palavra, gesto, grafitar o asfalto da tua rua com SIMs em vermelho ou azul ou qualquer outra cor(talvez fluorescente), encher teu quarto de girassóis imensos,rs. alguma loucura, doce, alguma coisa desmedida e boba que te fizesse mais feliz. Contigo sou cigarra quase, cantando até morrer(dramas, dramas). Ah, quase cinco da manhã e na rua suja, ninguém, ninguém além do meu corpo aceso, queimando, queimando. Meu bem, meu bem, meu bem, meu bem......como fazer amanhecer no escuro? como derreter carne? como curar uma febre? como assistir um milagre? qual a cor do amor quando assim, tão certo?

segunda-feira, maio 16, 2005

Cantada ao pé do ouvido em uma tarde de domingo

"Baby, você não precisa de um salão de beleza
há menos beleza num salão de beleza
sua beleza é bem maior do que qualquer beleza de qualquer salão

belle belle como linda evangelista
linda linda como isabelle adjani" ( Salão de Beleza, Zeca Baleiro)

terça-feira, maio 10, 2005

Luz Acesa

"mas ontem eu recebi um telegrama era você de aracaju ou do alabama dizendo
nego sinta-se feliz porque no mundo tem alguém que diz
que muito te ama que tanto te ama que muito te ama que tanto te ama
por isso hoje eu acordei com uma vontade danada de mandar flores ao delegado
de bater na porta do vizinho e desejar bom dia
de beijar o português da padaria ("me dê a mão, vamos sair pra ver o sol")
oh mama oh mama oh mama quero ser seu quero ser seu quero ser seu papa " (Telegrama, Zeca Baleiro)

Porque de amor falamos no claro, escondido dos olhos alheios, das palavras mais óbvias, repetidas, porque é preciso fazer sentido e sermos verdadeiros, verdadeiros, verdadeiros porque os cachorros estão cada vez mais loucos e sedados e pouco me importa lá fora, chove no verde das árvores e você sorri limpo da janela, abaixando logo após as persianas e dizendo que fique mais, hoje não tem sol algum. mas compreendo que o que me faz desejar este instante pra sempre, que dure, dure, dure é que nunca, talvez nunca tenha feito qualquer efeito tanto desejo, dor, sofrimento, paixão quando encaro a doçura da tua mão na minha, e teu beijo delicado em minha testa, meus olhos, minha boca, é preciso fazer silêncio porque o sol nasce onde menos espero, dentro por vezes e eu te amo como quem enfim desperta, como quem enfim acorda depois de um sono ou uma morte ou qualquer coisa assim trevosa. teu amor, esse nosso amor é dia claro.