everybody hurts sometimes- rem
esperar que alguem de novo desperte, como quem dorme dentro do proprio sonho e é refem dele.
a porta aberta não é suficiente se não há ninguem em casa, ela me diz, com um sorriso quebrado. vários passos depois, nem mesmo a tacita proibição imposta faz com que deixe de olhar o que não vive mais.
por entender o mecanismo deste coração, não posso prometer não ferir e correr.
eu nunca acreditei, meu bem, nunca, nem mesmo quando não tinhamos nenhum defeito a não ser a fome, nem mesmo neste tempo em que tudo era perturbador e perfeito, nem mesmo quando era desnecessário termos nomes e chamarmos por eles, nem mesmo assim, acreditei. esperava que você desistisse em algum ponto, onde ficasse mais obvio. secretamente, esperei também que você me desapontasse e conseguisse ficar. mesmo sabendo que você não era dos que sobrevivem, mas daqueles que ficam do outro lado, acenando, apenas acenando e prometendo lembrar para sempre.
logo eu que não acredito em absolutamente nada querendo ardentemente, alguem que me contradiga.
então, é assim? é assim que se resiste: fingindo calmamente que ainda se sente.
esperar que um dia o proprio coração se surpreenda.
enquanto isso, dobrar as roupas, abrir as janelas nos dias frios, ler livros e ver filmes. caminhar enquanto todos dormem e tirar as cartas de tarô que sussurram que tudo, um dia, ficará bem.
olhar as coisas, compadecer-se algumas vezes por si mesma e por outros e teimosamente continuar porque a teimosia assim parece ditar.
enquanto isso, o amor continua como a lembrança mais dolorosa, que faz encolher o corpo, perder o rumo e beber demais quando não se deve. porque a vontade de gritar é imensa, porque não existem mais grades brancas, porque no final de tudo, sempre soube que quem sofre mais é exatamente aquele que tem coragem ou loucura suficiente para saltar quando sabe que estrá sozinho no fim da queda.
no final, a asa partida, o grito, o quarto vazio, a falta de ponto de apoio: tudo isso é meu e não te pertence.
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