entre todos e tudo
este cansaço. esta vontade de berrar no meio da rua. essa gana de arrancar os cabelos. este desassossego.
vir até aqui não é facil, nem ao menos pretende ser. estar aqui é como todo dia começar do zero, sem santuário, sem mão que possa ser agarrada no meio da noite.
ele não era meu farol, nem meu norte. ninguém nunca me poupou da verdade, coração. ng nunca teve a clemencia de me livrar um pouco , um segundo que fosse, da verdade.
como se em mim não doesse, como se em mim houvesse uma desculpa para cada falta alheia, sempre a verdade chutada, esmurrada, cuspida.
em mim, há uma potencia destrutiva que adoraria nunca mais, apenas isso, nunca mais, e varrer todas as coisas que ainda permanecem de pé depois de tanto desastre.
existem demolições bem piores que aquelas que enxergamos. existem desconstruções que deixam apenas uma estrutura oca, sem qualquer utilidade.
meu dia é um desviar que não cessa. meu dia inteiro, coração, é saber que existe sempre um ou dois querendo a carne na ponta da lança.
e todo dia se repete como se não mudássemos nunca, como se estivessemos parados, petrificados, estupidos. corro para dentro, cada vez mais dentro de mim mesma, chegando ao ponto de não escutar o que me falam bem perto do ouvido.
hoje, não habito meu corpo.
chegue mais perto , coração, tão perto que escute o seu pensamento e ele me distraia, me faça rir, me faça sentir alguma leveza, alguma ideia de saída, de clemencia. chegue mais perto, coração, acorde a carne, me chame a atenção, me faça voltar a ouvir, voltar a sentir o sol na pele.
hoje, sou uma idéia. sem corpo, uma idéia.
uma ideia com um nome.
só isso.
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