"Que seja doce."(CFA)

quarta-feira, março 30, 2005

Um futuro Blue*

(* Escrito ouvindo as músicas "20 anos Blues" e "Mal Secreto")

Acordo porque meu corpo lateja, porque tenho medo, saudade e ânsia por saber o que vem depois. Depois do encanto, do desacerto ou da risada: me intriga o modo como se sucedem acontecimentos, pessoas e o filtro dos sentidos. Perdi o interesse por querer que soubessem dos poetas, versos decorados não são garantia de um coração disposto a levar o tiro ou de um anjo a perder as asas. Confessar que estou ligada no tal futuro blue, dia de sol atrás do outro, sendo os dias de chuva feitos para serem passados na cama, entre febres e risos. São tantos os riscos que eu corro ao apagar a luz, beijar tua boca, tirar a camisa e dispor-me assim, é perigoso, eu sei, já pensei estar antes na borda, equilibrando-me entre o vôo e a ameaça deste, mas não, enquanto lá fora, alguns fingem estarem limpos, banhando-se cada vez mais na água suja, escapo da miséria de ser para correr perigo ao apagar a luz, beijar tua boca, tirar a camisa e....

Acordo porque meu corpo lateja, porque me espanto com o quanto calo enquanto sussurro uma ou duas músicas no teu ouvido e durmo um sono sem sonhos. Entre desmaios e suspiros, eu vejo teu sorriso na janela e penso que tenho mais de vinte anos. Caminho entre o claro e o escuro, mas seguro sua mão para que me lembre que existo e sou concreta como uma coisa qualquer, porque ás vezes perco-me entre as luzes dos apartamentos, o barulho dos carros e as campainhas que tocam anunciando, anunciando, quem?, não pergunto. Sangro em algumas luas e me escondo porque piso esquisito como se carregasse peso em um corpo cansado demais. Se escolher a palavra que sorri, suspensa no teto do meu quarto, ela me perdoaria por precisar lhe dizer não? Se puder o que ele teme ser impossível, então, isso faria de mim alguém digno de virtude? Balanço a cabeça perto da janela e fecho os olhos porque a luminosidade me cega.

Acordo e quero a ousadia de escolher certo uma única vez, sinto a falta da tranqüilidade de saber do teu corpo na cama, acolhendo o meu. Tenho impulso de quebrar o perfeito das horas que passamos juntos com minhas fraquezas, que são duras como pedra, como um moleque quebra vidraças com prazer destrutivo. Talvez tenha este mal secreto que me faz cantarolar a canção até que enrouqueça: a bússola que me oferecem, coloco na mesa com desinteresse. O espaço onde pensam ser seguro parece outra prisão mal-disfarçada: é preciso ver além do conforto que a covardia nos proporciona com sua falta de sobressaltos e riqueza de lugares comuns.

Tenho medo desse olhar que reconheço no espelho, que espera sempre o grão duro no meio da calda doce, machucando a boca, quebrando dentes. O ar de ave arisca esperando um movimento em falso, jeito de fera de afiar as garras para defender-se do golpe, coisa de bicho que não tem dúvida quando deseja, quando pensa, quando sente.

quarta-feira, março 23, 2005

Das Surpresas

Posted by Hello

"Always and forever
You will see
Always and forever
Just be with me
We'll have love aplenty

We'll have joys outnumbered
We'll share perfect moments
You and me
You and me
You and me" ( Lullaby, Lamb)

Porque você consegue ser sempre irremediavel e terrivelmente doce.

terça-feira, março 22, 2005

Tick, tock

Posted by Hello

"I'm unclean a libertine
And every time you vent your spleen
I seem to lose the power of speech
You're slipping slowly from my reach
You grow me like an evergreen
You've never seen the lonely me at all" ( Placebo, Without you I'm nothing)

Isso que sei fazer, quebrar perfeito coisas e gentes, isso que gosto de ver, os estilhaços e pedaços de carne, sangue, restos, eu ando pela rua suja e as pessoas passam, mortas, tão mortas que me cumprimentam com seus enormes olhos que a tudo engolem, eu ando desviando dos tapumes, equilibrando entre abismos de silêncios forçados e palavrões escondidos na manga da camisa. O meu ódio, isso que gruda perto dos caninos e só descansa quando encontra uma vítima, o meu cansaço, que só sacia quando vê o mar e entende que nada nunca faz sentido no momento presente, a minha falta de nexo quando tento explicar o medo de outra vez, mais uma vez, a derradeira: essas pedras que fazem barulho dentro do peito contra a madeira escura. Alguém ouve os gritos, alguém precisa ouvir os gritos além de mim, porque não me interessa mais a dor alheia, preciso fingir que não interessa mais qualquer dor que não pertença á minha pele, que não frustra ver a fraqueza do outro refletida, que não atordoa nenhuma mediocridade além da sombra que me acorda em algumas madrugadas. Isso que sei fazer, ferir de morte, eu e uns tantos, me liberta do humano de procurar, precisar ou algo que o valha. É preciso que alguém corra, que alguém além de mim corra a favor do vento e correnteza, porque ás vezes cansa, ás vezes é muito frio e não tenho as palavras.

sexta-feira, março 18, 2005

"Here we go"*

(frase final do filme Punch Drunk Love)
Posted by Hello

"Who wouldn't be the one you love and live for
Who wouldn't stand inside your love and die for
Who wouldn't be the one you love" ( Stand Inside Your Love, Smashing Pumpkins)

Não deixe que te diga nada, não interrompa este silêncio, sorria, acenda o cigarro mais uma vez, vou piscar os olhos de-va-gar, me abrace, me coloque no colo sem que pareça criança, sem que pareça nada, apenas me deixe serenamente conviver assim, pele com pele, sem qualquer comentário. Quero te escrever alguma coisa importante, vital, terrível de tão crua e de muito significado, que escorra grossa das mãos feito sumo de fruta, mas não consigo porque guardo, guardo, guardo, recolho estes pedaços de vidro que brilham como se tesouros fossem e são, são pequenos gestos, delicadezas, ligeiras doçuras sussurradas ao meu ouvido propositalmente para que não me recuse, não possa, não queira, não.

Mas guardo, guardo, guardo, dos meus longos dedos, escapam pensamentos pluma, idéias leves que não são do meu feitio ter, mas que tenho desde que decidi não sangrar-me á toa por falsos sacrifícios. Digo que não sobrevivo mais uma noite, talvez nem duas e você sorri porque sabe que amanhã acordo e vou á praia e tatuo teu nome junto ao meu no ombro apenas porque fazer feliz é preciso, a vida é breve, cantada ou não. No segundo abraço, você me levanta alto e grito de alegria assustada, e as pipocas caem da boca porque gosto de ver de perto a tela de cinema e rio dos seus sustos. E tenho vergonha da sua sinceridade kamikaze contrastando com meu jeito de deixar para depois os profundos pensamentos que apenas serviriam para exaurir, cansar, bater no tapete cansado que o peito se torna em certos dias abafados, onde é penoso explicar-se e ser o explicado, sem sucesso.

Eu quero o simples porque é o mais difícil, percebe? Quero este estar sem urgência dolorosa, este som de risada, essa cor caramelo na pele, as cerejas fora de estação, Audrey cantando La vie en Rose....tantas coisas tolas tantas que ainda não sei precisar e não quero, para que o amor seja algo como um banho de mar.

terça-feira, março 08, 2005

Das partidas e chegadas

Posted by Hello

"and so it is
just like you said it would be
life goes easy on me
most of the time
and so it is
the shorter story
no love no glory
no hero in her skies
i can't take my eyes off of you

and so it is
just like you said it should be
we'll both forget the breeze
most of the time

and so it is
the colder water
the blower's daughter
the pupil in denial
i can't take my eyes off of you

did I say that I loathe you?
did I say that I want to
leave it all behind?
i can't take my mind off of you
my mind
'til I find somebody new" ( The Blower's daughter, Damien Rice)

Sou um animal sentimental. Roubo esta frase para desabafar como sou ainda incapaz de não chorar feito criança ao ver duas pessoas que passei a amar muito, saírem, mesmo que por pouco tempo, do meu campo de vista, de abraço, de olho no olho. Duas meninas lindas com quem dividi muito de mim mesma nos últimos meses, companheiras de dança, de riso, de praia, de vida voltaram para Floripa e só retornam ano que vem: como sei que faz parte do processo de mestrado das mesmas e que ambas pretendem voltar para o doutorado no Rio, vou embalando essa tristeza salgada e um tanto egoísta de pensarmos que as pessoas que amamos nos pertencem. Sou um animal sentimental que chora de madrugada, vendo um táxi amarelo cheio de malas, fazer a volta em uma rua suja e movimentada de Botafogo, acenando e mandando beijos muitos. Esta canção fica para aqueles momentos em q a gente precisa deixar ir, mesmo que reencontre depois, os nossos amores-amigos. Esta canção é para Rossana e Helena, ou Helena e Rossana, rs, minhas queridíssimas amigas.

terça-feira, março 01, 2005

"We need to concentrate on more than meets the eye"*

Posted by Hello

"There are twenty years to go
A golden age I know
But all will pass and end too fast you know
There are twenty years to go
And many friends I hope
Though some may hold the rose
Some hold the rope

That's the end - and that's the start of it
That's the whole - and that's the part of it
That's the high - and that's the heart of it
That's the long - and that's the short of it
That's the best - and that's the test in it
That's the doubt - the doubt, the trust in it
That's the sight - and that's the sound of it
That's the gift - and that's the trick in it
You're the truth, not I" (20 years, Placebo)

Procurar-se, procurar-te, desistir, isso não é uma guerra, amor guerreia amor, eu sei tantas poesias e musicas e frases de filmes e assim, mesmo assim, mesmo e ainda assim, eu espero pela palavra certa dentro que nasça e simplesmente consiga explodir o que espera seu nascimento. Concentrar-me em saber, em olhar para o fundo desse poço e saber da água, que posso bebê-la, que não há nada lá embaixo, desistir das cenas assustadoras do cinema, buscar um sentido que nos refaça e que sejamos assim mais do que coisas andando. Porque as coisas se movem mesmo que não as olhe, as coisas se movem e mudam de tom ao longo do dia e dentro em breve, teu rosto, este rosto que desconheço e que desejo, também se desfará como um monte de areia sendo soprado e essa visão de brevidade me comove.

Que a verdade não será minha assim como compro esse jornal e recorto a foto que amarelará dentro de um caderno qualquer. Que o sentir de bolero não pertence e as tardes tristes de tão cinzas ou belas de tão cinzas, que a chuva caindo grossa entre as árvores, as placas de ferro explicando um passado que ninguém se dá ao trabalho de ler, as letras se alinham e desalinham para deleite dos olhos acostumados ao comum de acordar, trabalhar, comer, dormir e em intervalos, caçar em beijos o que não sabemos, o que suspeitamos que o outro guarda, a tal verdade, dolorosa, perfeita ou simplesmente tocável, passível de gosto, cheiro e um nome. Mas o nome não importa, não interessa e sim a verdade que talvez se encontre entre a carne e o que fazemos dela quando nos encontramos. Por favor, nunca me abrace, mas fique mais um pouco e me olhe assim de cima como olho pra você, como se estivéssemos o mais alto possível e longe do resto do mundo. Porque nada disso será meu além da ilusão de pertencer coisas como se não fosse uma delas. Eu sou.

A mão que passa em minha testa, a língua que preenche a minha boca, os sentidos alertas que embaçam, a má-intenção e a virtude, a promiscuidade da pureza, procurar a sombra dentro das coisas belas, a sujeira das coisas perfeitas, eu quero provar destes e outros sabores e ainda assim ainda assim conseguir olhar para você, de cima, como você me olha, mas ao mesmo tempo quero a liberdade de poder esconder-me do atento instinto, da curiosidade mordaz de querer decifrar-me em tudo, me possua e me liberte, não suporto o amor encaixotado e sombrio das grandes cidades, com seus esgotos e ratos e pombos, quero um verde tom nos nossos encontros, quero ouvir o mar no teu peito batendo como nas pedras.

Shhhhhhhhhhhhhhh

Posted by Hello
"Protect me from what I want
(Protège-moi, protège-moi)
Protect me from what I want
(Protège-moi, protège-moi)
Protect me, protect me
Protège-moi, protège-moi
Protège-moi de mes désirs" (Placebo)