Tick, tock
"I'm unclean a libertine
And every time you vent your spleen
I seem to lose the power of speech
You're slipping slowly from my reach
You grow me like an evergreen
You've never seen the lonely me at all" ( Placebo, Without you I'm nothing)
Isso que sei fazer, quebrar perfeito coisas e gentes, isso que gosto de ver, os estilhaços e pedaços de carne, sangue, restos, eu ando pela rua suja e as pessoas passam, mortas, tão mortas que me cumprimentam com seus enormes olhos que a tudo engolem, eu ando desviando dos tapumes, equilibrando entre abismos de silêncios forçados e palavrões escondidos na manga da camisa. O meu ódio, isso que gruda perto dos caninos e só descansa quando encontra uma vítima, o meu cansaço, que só sacia quando vê o mar e entende que nada nunca faz sentido no momento presente, a minha falta de nexo quando tento explicar o medo de outra vez, mais uma vez, a derradeira: essas pedras que fazem barulho dentro do peito contra a madeira escura. Alguém ouve os gritos, alguém precisa ouvir os gritos além de mim, porque não me interessa mais a dor alheia, preciso fingir que não interessa mais qualquer dor que não pertença á minha pele, que não frustra ver a fraqueza do outro refletida, que não atordoa nenhuma mediocridade além da sombra que me acorda em algumas madrugadas. Isso que sei fazer, ferir de morte, eu e uns tantos, me liberta do humano de procurar, precisar ou algo que o valha. É preciso que alguém corra, que alguém além de mim corra a favor do vento e correnteza, porque ás vezes cansa, ás vezes é muito frio e não tenho as palavras.
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