"Que seja doce."(CFA)

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Música Ligeira

(ao som do cd Hot Fuss, Killers)

Posted by Hello
Não escale os portões, não te dei chave. Não sussurre meu nome se não quero nenhuma desculpa. Você sabe, estamos ficando novos à medida que caminhamos, os olhos continuam os mesmos atrás do rosto cansado. Bebemos café nas tardes da cidade movimentada e você se recusa a falar de seu novo amor, não, romatiquices, pareceria antiquado, “nós que nos amávamos tanto”? Observo o modo inventado de moleque com o qual seus dedos me tomam o cigarro da boca, você não pede um trago, como sempre. Brindamos ao silêncio inventado das horas em que o desejo faz graça como chocolate na língua. Os dentes querem uma mordida que sangre, tamborilo na mesa uma música, rápida, violentamente irônica, que seja o que sinto agora. Coming out my cage and i´ve been doing just fine, it was only a kiss, but my stomach is sick.
Isto que sentimos é trevoso e gruda como piche, imagino quantos dias precisaria para tirar da pele, a marca, o cheiro, o rastro. Smile like you mean it, tua boca escondida atrás de mais uma máscara, os turvos, você ainda sente, ainda, ainda, minhas mãos tremem mais quando a febre de dizer o impossível me apavora. Minto: este medo que finjo, só um dos demasiados véus, brutalmente franca, não temo nada além do de dentro e faz luz demais agora para fingir que não vejo. Somebody told me, quão rápido você pode correr, mentir, roubar, tentar este salto, eu queria assistir, ás vezes, i got potential, balanço a cabeça, concordo com algo que não me importa, o lado escuro da lua, das coisas, quando faz sombra, mas você não entende nada disso, envelhece séculos enquanto engole o quente escuro líquido da xícara, eu assisto porque gosto de ver e não quero agradá-lo, nunca quis, quero esta outra coisa, que inconscientemente roça at the back of my neck, desconcertante, essa vontade de quebrar o vidro e não pedir desculpas a ninguém. Não invejo o perverso que você carrega tão bem, mas o modo tranqüilo com que você me diz: é exatamente isso que preciso agora. Há muito, me faltava essa noção de pouco limite, you cannot change my mind, but drive faster, boy. Nós nos sentimos assim antes, muito antes, quando seguia os passos na calçada entupida e você sabia que me demorava propositalmente para fazer com que esperasse. Houve algum jogo que não soubéssemos?

Você me assiste abrir as asas intactas e se pergunta como. Não sabe do perigo do meu jeito de recompor-me a qualquer custo, a fatalidade está aí, indefeso em sua ignorância, você me pergunta minhas histórias sentimentais, invariavelmente conto que morreu Dom Quixote e os últimos moinhos, sem explicar significados. Amar é engraçado como brincar de jogar punhais na moça, roda girando. Alguém conhecido tinha um pai bêbado que fazia isso, atirava facas e a pele da menina toda marcada, ela não ligava, contava rindo. Mas a pele sofre menos que a alma. Ainda lembro de quando você disse que me seguiria quando fosse, mas não te direi isso com carinho algum porque foi há muito tempo atrás e if you can keep a secret, nunca amei o real em ninguém, apenas as visagens. Quando confesso, sei que você se contorce, culpa a gastrite, pede mais uma água e conta qualquer coisa outra que distraia o desconforto. Não peço desculpas, we´re just a good thing, não pense menos, alguém disse que poderíamos quase tudo se sonhássemos diferente, mas não faria sentido perguntar em que você estaria pensando enquanto me beijava no teto antigo, as barras de ferro entortando em nossas mãos e eu prometendo roubar-te pra sempre, pra sempre, as mesmas palavras, lugares comuns onde todos se inclinam, mas onde eu ando, malabarista, excepcionalmente como nenhum outro.