Nas pedras antigas de Tiradentes, ele caminha
O melhor é o antes, te digo, quando antes você olha de perto e sabe da boca desejando a sua, quando de perto e mais perto, você olha o rosto até que ele se torne algo impossível de ser olhado, um deus hindu, cheio de olhos e bocas e dentes, um deus desses estampado em minha blusa. E a espera, esses segundos de espera, onde a pele esquenta e desperta, onde tua mão toca meu braço e passeia por ele até alcançar o pescoço, segurando suavemente meus cabelos, "não perca nunca teu cheiro”, diz, baixinho em meu ouvido e me abraça como se tudo fosse acabar aqui, o mundo, e fôssemos as ultimas paisagens a serem olhadas, eu e você, os últimos a serem, então o abraço é um abraço único de proteção e acolhida, talvez porque pressinta o meu cansaço de pois de tantos saques, do tempo que perdi a recolher os pedaços quebrados do vaso que os deuses olharam desencantados, ah, os mundos que inventamos e descobrimos desertos, não, você não sabe disso, você apenas me deixa descansar no teu ombro e envolve minha cintura com teus braços e consigo fechar os olhos, descansar, ficar serena e calada, coisa tão estranha, i´m released from all, você entende a minha língua porque ela não é feita de palavras, mas de gestos, olhares, pulsações. Quando mergulhamos bocas procurando, procurando o vestígio de um outro gosto, familiar, desconhecido, algo novo e antigo que paire entre peles, procuro no teu corpo o que machuca e não encontro porque tua carne ainda desconhece a maldade crua lá de fora, provo da saliva doce e me calo. Silêncio quase sagrado de prece porque beijo você em mim, vejo você em mim e sou parte sua e planta e pedra e bicho, porque a iluminação que alcanço vem do teu sangue, de ser tudo e parte de todas as coisas que se movem ou não. Realinha minha órbita, sem estabelecer-se satélite ou coisa alguma, apenas presença Inteira dentro de si mesma. Somos dois e não importa mais nada.
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