"Que seja doce."(CFA)

sábado, agosto 15, 2009

Wild


"Love me love me love me
Say you do
Let me fly away with you
For my love is like
The wind
And wild is the wind" (Cat Power)
já houve um tempo em que havia sempre algo que faltava lhe dizer. algo que faltava apontar e explicar, repetir, insistir.
o grito substituía a fala.
o choro substituía a fala.
eu era minúscula e odiosa e assustada.
não conseguia entender: no meu mundo, é tudo estranhamente claro. sem sombras. o que sinto é claro como o sol no centro do céu azul, meio dia.
Não poderia deixar alguém que ainda era tão absolutamente amado. eu não poderia deixar você. não poderia fingir que era apenas um corpo, sem nome. não poderia deixar de pensar na sua rotina, no cheiro do seu pescoço, na sua pele, seu sorriso.
e doía.
não como se alguém tivesse morrido. mas como se alguém tivesse decidido que afinal, não era tão importante. que era possivel abrir a porta, arriscar perder, afastar-se.
meu amor de grandes cenas, heróico, cinematográfico, Meu amor.
era completamente absurdo que alguém pudesse, que você pudesse.
era intolerável.
mas era possivel. era real.
e aconteceu.
aconteceu como não esperava, como não queria: aconteceu lentamente, entre filmes e livros e minhas corridas de madrugada, entre os sorrisos que você não viu, conversas que não tivemos.
aconteceu entre o espaço dos abraços, dos beijos, das palavras, do calor que esperava vir de você. mas que não tinham mais espaço.
você me acostumou a sua ausencia. a sua falta.
me acostumou a não esperar que você, meu companheiro de tantas, chegasse.
a ter certeza que você vivia, escolhendo viver do outro lado da cidade, onde eu não te alcançaria.
a ter certeza que não nos encontraríamos, por mais que ainda buscasse você com os olhos nos lugares, ainda uma parte de mim esperasse você chegar...... mas esta parte, exaurida, cansada, ia pouco a pouco desistindo de procurar, de doer, de pensar que talvez você ainda pudesse.
aconteceu.
aconteceu.