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"iniciei mil vezes o diálogo. não há jeito.
tenho me fatigado tanto todos os dias
vestindo, despindo e arrastando amor
infância, sóis e sombras" (Hilda Hilst)
é uma fraqueza, não dizem? uma fraqueza apenas. o dia amanhecendo na janela gradeada, mordo a maçã sem vontade, por obrigação. escuto a mesma música. tem vezes que canto, tem vezes que escuto muda. as pessoas, as pessoas me assustam. vc me assusta. eu ainda acordo certas noites com esta falta. é amor isso ainda? é amor e mesmo assim, não fui eu que fiz as malas?
é amor e fiz as malas.
mas o estranho é sentir que fui a última a sair da casa, a apagar a luz, fechar a porta.
todos haviam saído antes de mim, só eu permanecia, esperando, esperando.
as mulheres e sua dolorosa espera.
eu berro, choro e me despedaço nas esperas. não sei o motivo, simplesmente minha natureza não aceita irresolução.
coisa pior que a morte.
"me paga uma bebida"
"qual é teu nome?"
"qualquer coisa estúpida"
os mesmos brinquedos. os mesmos, as mesmas. os poemas riscados no livro, riscar um xis no lugar do peito. tem dias que sorrio como quem não viveu nada, tem dias que não consigo lembrar. tem vezes que não faz a mínima diferença porque as coisas se movimentam ao meu redor, rápidas e chamam meu nome.
admiro certa frieza, eu sou passional e fora de contexto. falo o que sinto, entre silêncios, porque certas palavras não devem ser ditas no escuro, quando amanhece e estar sozinho lateja.
falam que o tempo...
"natural é perder", sim, sim, mordo a ponta da caneta.
alguns mapas nunca são descobertos mesmo quando descansam dentro de sacos plásticos em gavetas. o melhor seria não deixar rastro qualquer, ser quase índio pisando leve na terra como se fosse parte de tudo.
mas quase todos eles morreram, não é?
mas quase tudo morre mesmo.
mesmo que demore, tudo morre inevitavelmente.
por isso, acordo certas noites como esta e espero que vc esteja acordado.
alguém disse: "é só uma estrela, só isso"
fechei os pulsos, mordi a boca, latejava, latejava.
eu queria ser uma dessas pessoas comuns, tranquilamente apáticas.
minto. não tanto como gostaria. ou finjo que gostaria.
doeu a tua falta, subitamente. forte como se deixasse de respirar.
assim dói menos, no silêncio. fingir de morto, brincar de estátua.
pa-ra-do.
mas eu me mexo demais e perco.
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