Provocação
são certas noites.
não todas.
uma vontade, uma provocação dos sentidos
uma febre
um arrepio na nuca.
são certas noites.
vc não está aqui.
eu não tenho respostas.
e trago todas as urgências.
o gosto que não entendo,
a cor no fundo do copo
o corpo e as mãos e os gestos
provocação dos sentidos
não querer voltar para casa
para pensar olhando para o teto
em tudo que ainda dói quando decide doer
em tudo que arranha quando decide machucar
e um cansaço de dizer e fazer as coisas esperadas e certas.
são certas, as noites como esta.
são certas noites como esta, meu amor.
quando vc está longe
e me diz doces palavras
que não fazem efeito
que não deixo fazerem efeito
que não permito entrada
eu, tão feita a toda gentileza que é tua
eu, que ainda me debato e grito e berro e danço
provocação dos sentidos.
provocação, meu amor, será que vc entende?
eu nunca poderia ser livre
eu nunca conseguiria ser livre
porque toda a liberdade que eu consigo não pode
nem deve
ser explicada
escrita
mensurada
esmiuçada
porque cercada de meus mistérios particulares
e se vc soubesse todos eles,
eu seria apenas alguém
ou mais alguém que vc amaria a confusão,
o erro,
o mal-entendido
e se compadeceria.
como vc sempre faz.
e eu quero que vc me deseje
que me ame
que me entenda
mas nunca nunca se compadeça.
eu, cruamente honesta
sempre te testando com a verdade
provocação dos sentidos
em certas noites como esta,
são certas, as noites como esta, meu amor
que devo trancar portas e janelas.
devo apagar todas as luzes
fingir dormir o sono dos muitos puros
rezar
não sucumbir ao arrepio na nuca
ao uivo
ao impulso de saltar
no escuro
sempre no escuro.
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