"Que seja doce."(CFA)

quinta-feira, setembro 14, 2006

Provocação

são certas noites.
não todas.
uma vontade, uma provocação dos sentidos
uma febre
um arrepio na nuca.

são certas noites.
vc não está aqui.
eu não tenho respostas.
e trago todas as urgências.
o gosto que não entendo,
a cor no fundo do copo
o corpo e as mãos e os gestos
provocação dos sentidos
não querer voltar para casa
para pensar olhando para o teto
em tudo que ainda dói quando decide doer
em tudo que arranha quando decide machucar
e um cansaço de dizer e fazer as coisas esperadas e certas.

são certas, as noites como esta.
são certas noites como esta, meu amor.
quando vc está longe
e me diz doces palavras
que não fazem efeito
que não deixo fazerem efeito
que não permito entrada
eu, tão feita a toda gentileza que é tua
eu, que ainda me debato e grito e berro e danço
provocação dos sentidos.
provocação, meu amor, será que vc entende?

eu nunca poderia ser livre
eu nunca conseguiria ser livre
porque toda a liberdade que eu consigo não pode
nem deve
ser explicada
escrita
mensurada
esmiuçada
porque cercada de meus mistérios particulares
e se vc soubesse todos eles,
eu seria apenas alguém
ou mais alguém que vc amaria a confusão,
o erro,
o mal-entendido
e se compadeceria.
como vc sempre faz.

e eu quero que vc me deseje
que me ame
que me entenda
mas nunca nunca se compadeça.
eu, cruamente honesta
sempre te testando com a verdade
provocação dos sentidos
em certas noites como esta,
são certas, as noites como esta, meu amor
que devo trancar portas e janelas.
devo apagar todas as luzes
fingir dormir o sono dos muitos puros
rezar
não sucumbir ao arrepio na nuca
ao uivo
ao impulso de saltar
no escuro
sempre no escuro.