Nove canções
(ouvindo Franz, Killers, Jet)
"Que seja doce."(CFA)
(ouvindo Franz, Killers, Jet)
Acorda, refaz itinerários, não se prende a mapas, não se prende a memória. Pensa uma coisa de cada vez ou tenta, pelo menos. Não fuma, não bebe, diz sim para as coisas certas(ás vezes, sabe quais são). Beija quem ama no final da tarde, com o alívio doce de quem encontra(finalmente). Lava roupas brancas como passatempo. Cantarola pela rua quando o dia é de sol e não pode ir á praia. Descobre algo belo no familiar, relê seus poetas com carinho no quarto ás duas da tarde. Corta os cabelos porque pesam, torna sua cabeça mais leve (gosta de imaginar isso). Ri aberto e limpo quando em boa companhia. Não sabe mais conviver com quem não gosta, prefere andar só quando está triste.
Quer ter mais compaixão com gente covarde ou falsa(mas ainda não consegue), afinal, alguns só nasceram para caminho batido. Não se decide sobre sua cor favorita, se rosa ou azul. Gosta do cheiro do mar na pele. Reza sem saber rezar quando vai dormir, tem saudades resignadas de um Antes (ah, o dourado da infância). Quer conhecer outros lugares ensolarados como este, a cidade laranja. Aprender outras línguas, além das que sabe. Quer sentir sem entender e não surtar por causa disto. Passar a vida estando inteira em cada momento, atenta. Mentir cada vez menos. Acolher sem perder-se cada vez mais. Dormir algumas tardes inteiras do lado de quem se sente naturalmente protegida e que a acorda com beijos na testa. Fazer amigos que saibam a diferença entre o que aparentamos e o que realmente somos(já fez alguns). Perdoar abusos, roubos, mentiras e decepções(indisfarçavelmente, uma tarefa das mais árduas para uma natureza passional como a sua) e trazer a alma liberta. Amar respirando fundo, sem medo. Fazer bem o quanto e enquanto puder.Morrer como um pássaro, sem arrependimentos.
"Tu boca roja en la mía,
la copa que gira en mi mano,
y mientras el vino caía
supe que de algún lejano
rincón de otra galaxia,
el amor que me darías,transformado,
volvería un día a darte las gracias.
Cada uno da lo que recibe
y luego recibe lo que da,
nada es más simple,
no hay otra norma:
nada se pierde,todo se transforma.
El vino que pagué yo, con aquel euro italiano
que había estado en un vagón
antes de estar en mi mano,
y antes de eso en Torino,
y antes de Torino, en Prato,
donde hicieron mi zapato
sobre el que caería el vino.
Zapato que en unas horas
buscaré bajo tu cama
con las luces de la aurora,
junto a tus sandalias planas
que compraste aquella vez
en Salvador de Bahía,
donde a otro diste el amor
que hoy yo te devolvería......
Cada uno da lo que recibe
y luego recibe lo que da,
nada es más simple,
no hay otra norma:
nada se pierde,todo se transforma." ( Jorge Drexler)
"Zézim, você só tem que escrever se isso vier de dentro pra fora, caso contrário não vai prestar, eu tenho certeza, você poderá enganar a alguns, mas não enganaria a si e, portanto, não preencheira esse oco. Não tem demônio nenhum se interpondo entre você e a máquina. O que tem é a questão da honestidade básica. Essa perguntinha: você quer mesmo escrever?Isolando as cobranças, você continua querendo? Então vai, remexe fundo, como diz um poeta gaúcho, Gabriel de Britto Velho, "apaga o cigarro no peito/ diz pra ti o que não gostas de ouvir/ diz tudo".Isso é escrever. Tira sangue com as unhas.E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que, a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega?Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora. A única recompensa é aquilo que Laing diz que á a única coisa que póde nos salvar da loucura, d suicídio, da auto-anulação: um sentimento de glória interior. Essa expressão é fundamental na minha vida." ( Caio Fernando Abreu, Caio 3-D, O Essencial da década de 1970)