"Isto não é um lamento, é um grito de ave de rapina." (Clarice L.)
o problema de doer existe. silenciosamente, existe, sem que possa apontar para vc, olha é isso que incomoda, olha é isso aqui que destoa na superfície lisa como um caco de vidro perdido dentro da carne.
não tenho visto nada apesar das janelas. nada. não ando até o mar porque subitamente o encanto se perdeu. não, o mar continua, sou eu, entende? perdi o encanto, como se lançasse uma sombra dentro. o escuro não á assustador, mas impede que entenda e veja e saiba.
seria fácil pedir nunca mais volte aqui. seria fácil e os cristais partiriam todos, não teria nada mais sagrado, nenhum tesouro. vc precisaria insistir, arrombar a porta, talvez? não acredito que recusasse sua entrada em qualquer lugar. vc anda em mim com a coragem que não possuo, mesmo sabendo que é pouco seguro, não te aviso: gosto de vc aqui, gosto de vc embora arda sentir e defender.
é preciso ser aceito? por quem, por quê? que valem as permissões que peço? eu, a que busca sempre as aprovações de deuses alheios. os caprichos por um instante de atenção. limitadamente, estou aqui a porta. como alguém que não se basta. embora diga, não, não, sou toda afirmativa urgente.
não nasci luminosa quanto devia?
tenho vontades e obrigações e necessidades, a outra diz. queria entender e aceitar resignadamente cada pedaço do meu destino.
caminho com dificuldade entre palavras, vc percebe? receio de outros olhos. medo de outros olhos. minha alma tem períodos de seca e extrema cheia: sou agreste ou alagada. vc sabe nadar?
eu acredito.
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