"Que seja doce."(CFA)

quarta-feira, dezembro 13, 2006

"Meu coração é uma planta carnívora morta de fome" (Caio F.).

"Você dita ao meu coração
O que ele não quer aprender, Zé
Você quer que o meu coração
Siga a tua receita só
Não, quero que aceite
O jeito que eu te dou de mulher
Não, e aproveite
O resto o tempo dá jeito" (Zé, Vanessa da Mata)

"Meu coração é um mendigo mais faminto da rua mais miserável. "(Caio F.)

não posso dizer nada.
calo.
calo quando vejo e quando não vejo.
até o momento exato onde dentro algo em mim vibra
de modo diferente,
como se houvesse vento e mudasse a direção.

as pessoas são diferentes de tudo que já vi.
por mais que queira entendê-las, elas estão ali do outro lado
do lado de cá, aceno, tento alguma comunicação mas
ela se perde.
deste lado onde fico, observo e
de tanto olhar, sinto-me dentro delas facilmente
mas me incomoda este estar por olhar perto demais
então, balanço a cabeça e falo besteiras
pra que ninguém descubra o meu segredo.

ás vezes, quero alguém que segure forte o meu pulso
até deixar as marcas dos dedos
quando ele partir, estas marcas me darão certeza da vinda
da existência passada de uma presença.
quando tocá-las, o nervo se contrairá e sentirei.
um milagre, sentir, sabe?
sentir qualquer coisa, intensamente, é absurdo quase
proibido quase
repare nos olhares alheios quando os casais se entrelaçam nas sombras
olhares sujando um desejo novo
como se querer descobrir o toque e o gosto do outro
fosse um desses defeitos irremediáveis,
uma fraqueza.

brindo á Resistência.
porque é preciso continuar
insistir em permanecer do lado de cá,
outros moram aqui desse lado, eu sei, eu sinto
ás vezes, nos encontramos
mas não falamos como conseguimos chegar aqui
ás vezes, nos engolimos
para percebermos que não adianta nada
amanhã, estaremos inteiros
e ainda teremos medo.
mesmo do lado de cá.
medo cresce em todos os lugares, sabe?
é preciso fingir não notar e ter o impulso de
mesmo assim, mesmo assim.

não posso dizer nada.
ando muito quieta, por isso falo sem parar.
o barulho das palavras me acalma
e disfarça o silêncio em que meus olhos estão afogados.
por isso, são necessárias as febres, sabe?
para acordar o corpo.
para deixar os sentidos atentos,
a alma afiada.
calo. não quero falar nada.
quero o toque preciso, forte, a marca,
uma espécie de dor agradável,
a entrega e o deixar-se consumir.