"Que seja doce."(CFA)

quinta-feira, novembro 23, 2006

Tiny Dancer

"Blue jean baby, L.A. lady, seamstress for the band
Pretty eyed, pirate smile, you'll marry a music man
Ballerina, you must have seen her dancing in the sand
And now she's in me, always with me, tiny dancer in my hand"

quando ela abre a porta,
vc pensa ainda que vai voltar.
que pode ser um dia que volte.
de repente.
subitamente.
ela volte, sorrindo do mesmo jeito, mordendo a boca,
rindo e tentando fazer vc sorrir,
fazendo uma daquelas caras de quem não poderia causar mal
nem que quisesse.

o jeito que ela olha, vc sabe
não é o mesmo jeito
não é o mesmo olhar
que vc está acostumado a tantas e tantas vezes
encontrar
são uns olhos estranhos e bons,
que atravessam sem perfurar,
que mudam de cor quando ela chora,
mas ela não chora na frente de estranhos,
embora tenha chorado ao lado que quem nunca a enxergou direito.
(vc não teria como saber)

ela tem as mãos longas,
não sabe batucar nas mesas,
mas ás vezes, se vc tiver sorte,
ela pode cantarolar alguma música
e dançar como se pudesse confiar a vc
a doçura rebelde que ela transpira.
se vc estiver cansado, são os dedos dela
que passarão leves pelo seu rosto,
pelo seu cabelo,
e ela pode fazer vc dormir abraçado ao seu corpo claro
enquanto ela brinca: "finge que estamos num navio".

ás vezes, ela tem um jeito eufórico de criança
em manhã de natal,
por nenhum motivo,
e pode gargalhar e rodopiar no meio da sala,
pintar o rosto, comprar flores,
colocar um vestido e passear descalça
como se o mundo fosse sempre um quintal
e não houvesse razão pra tanto medo.

ás vezes, ela se cala e fixa o olhar num distante
e vc se apavora com aquela tristeza calada,
aquela solidão imóvel, quase serena,
de se afastar tanto de ser gente,
que vc quer tocá-la, desencantá-la,
porque teme que ela não volte e vc não entende.
quando ela retorna, sorri de um jeito estranho,
como se tivesse pisado outras terras e visitado uns tantos lugares
e volta a ser como antes, desobedientemente terna.

mas um dia, vc não percebe
(como vc poderia saber, afinal?)
que sempre dura muito pouco o encanto
e que vc sempre pede tudo ou quase tudo
até que dela nada mais reste a entregar a não ser rendição.
o vento sopra forte demais dentro da sala
e ela olha vc diferente porque sabe
(ela sabe e ás vezes saber é como ter visto o milagre)
que render-se é como colocar grilhões no espírito
domar o que é selvagem dentro do peito
que só se entrega por vontade
nunca por força.

quando ela abre a porta,
é outra que parte, sem malas,
que te desconhece, que te expatria
que te expulsa.
ela não volta porque nasce de novo
a cada partida e
não poderia reconhecer vc.
(mas vc não teria como saber disso,
e se soubesse, teria coragem o suficiente?)

"But oh how it feels so real
Lying here with no one near
Only you and you can hear me
When I say softly, slowly
Hold me closer tiny dancer
Count the headlights on the highway
Lay me down in sheets of linen
you had a busy day today" (Tiny dancer, clique para ouvir e ver)