Da natureza da carne
(para Gipsy)
Estreante (Manoel de Barros)
"Fui morar numa pensão na rua do Catete
A dona era viúva e buliçosa
E tinha uma filha indiana que dava a pancas
Me abatia
Ela deixava a porta do banheiro meio aberta
E isso me abatia
Eu teria 15 anos e ela 25
Ela me ensinava:
Precisa não afobar
Precisa ser bem animal
Como um cavalo. Nobremente
Usar o desorgulho dos animais
Morder lamber cheirar fugir voltar até
Nobremente. Como os animais
Isso eu aprendi com minha namorada indiana
Ela me ensinava com ungüentos
Passava ungüento passava ungüento passava ungüento
Dizia que era um ato religioso foder
E que era preciso adornar os desejos com ungüento
E passava ungüento e passava ungüento
Só depois que adornava bem ela queria
Pregava que fazer amor é uma eucaristia
Que era uma comunhão
E a gente comungava o pão dos anjos"
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