"Na alma do corpo, no fundo dos olhos- No fogo Fogo"
"We die, we die rich with lovers and tribes, tastes we have swallowed....../ nós morremos, morremos ricos com amores e tribos, gostos que engolimos
bodies we have entered and swum up like rivers, / corpos que entramos e nadamos como rios
fears we have hidden in like this wretched cave.../medos que escondemos dentro como nessa caverna escura
I want all this marked on my body./eu quero tudo isso marcado em meu corpo
We are the real countries, not the boundaries drawn on maps with the names of powerful men...../Nós somos os Verdadeiros Países, não as fronteiras desenhadas em mapas com os nomes de homens poderosos" (trecho de Katharine, O Paciente Inglês)
prometia buscar mundos,
não largar minha mão,
eu era vida, lua, sol, carne, luz, direção, Norte,
a mais vital das coisas vitais
das coisas, entende?
das coisas, eu era
a mais importante e principal
me carregava no pescoço
como jóia
talismã
acreditando que era fixa
uma dessas coisas imutáveis,
a mais irremovível das coisas
das coisas, eu era
a mais valiosa e cara
me segurava noite adentro
como um afogado agarra a coisa que o impede de afogar
ouvia os pesadelos todos, as sombras nos cantos do quarto
sempre falando de abandono, de abuso e de covardia
não me movia, porque sua mão segurava forte a minha
como se fosse a mais protetora das coisas
das coisas, eu era
a mais poderosa e cheia de mistérios
mas os dias passam, e a natureza verdadeira se revolta
como se dentro, não houvesse doma,
não fosse capaz de rendição,
não coubesse a identidade de coisa
assim inanimada
assim de uso
de casa
é como bater os cascos no chão
e respirar forte dentro da noite
como a lembrar de uma época bem antiga
acordando o sangue das febres acumuladas
acendendo os olhos das janelas que não foram abertas
e perguntando a esse outro: que coisa te disse que era?
que coisa disse que podia ser?
que coisa prometi que seria?
não lembro de prometer servidão,
de fazer votos ou demandá-los,
de pedir comunhão de venenos e milagres.
por que coisa então?
transformar-me em coisa,
esta que se gasta,
que se acostuma,
que se espera posta em espera,
em uma quase vida.
foi de corpo em corpo dilacerado que aprendi,
foi de boca em boca bebida que se abria vermelha,
dentro de cada olho precipício,
que encontrei a Selvagem gritando:
"não quero nada!
nada além do instante
nada além do que me pertence
dentro
e que com ninguém divido
as minhas fronteiras são guardadas
por forças que não dizem seu nome a estranhos
e que protegem incautos e viajantes
porque sou da natureza instável
de quem planta suas raízes no mais profundo
além da carne.
posso arder, ventar, chover, soterrar
e produzir dor, morte, prazer, vida.
não quero nada!"
(nunca consegui o nome da Selvagem, mas desconfio, em certas noites, que sou eu)
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