"O Amor é a grande desilusão de tudo o mais..."(Clarice Lispector)
"I have heard a hundred violins crying
And I have seen a hundred white doves flying
But nothing is as beautiful
As when she believes in me" (When she believes, Ben Harper)
entre nós, existe um espaço, um vago onde não pudemos entrar. um vão onde ficam os medos que insistimos apesar da inexistência de sombras. entre nós. por vezes, nos esquecemos e parece (só parece) que a água nunca turva, o céu nunca escurece, os filhotes nunca morrem. o Tempo é bom e calmo, as palavras são gentis porque não nos defendemos.
é de repente, que os olhos mudam, como se embaçados, enxergar se torna difícil....e ver o outro, parece tão distante, como se estivéssemos em lados opostos e não na mesma margem. me torno estranha, uma Outra, que vc espera um gesto fatal, um veneno, uma mentira. sou traiçoeira nos teus pesadelos como se não bastasse toda a nudez com quem falo e me mostro. eles não sabem: existe uma nudez além da pele, muito mais profunda.
vc, na outra margem, afogado em silêncio, não se debate, não gesticula, não se aproxima. vc cala, como quem pudesse acusar de tantos crimes, alguém que nem desconfia do papel de bandido no filme. eu, do outro lado, espero como quem faz de esperar a maneira de responder : nada temo, porque não existe culpa. quando vc se despede, dando as costas, num ímpeto de pisar forte e falar duro, nada faço. algo em mim se encolhe, apenas, como se desencantasse, como se voltasse a ser sapo, voltasse o feitiço: a mágica de sentir não tem piedade dos nossos erros, imagino.
mas se vc acreditasse, se vc apenas acreditasse, talvez, a minha espera, o meu desencanto, tudo passasse como um sonho ruim, e refeita, perdesse a memória dos desastres, dos mal-entendidos como um bicho maltratado que retorna ao ouvir ser chamado, e aceitasse o carinho como se apenas esse toque doce existisse.
por isso, eu espero, espero, que vc acorde e me chame sempre, para o outro lado, a tua margem.
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