"Que seja doce."(CFA)

quinta-feira, novembro 04, 2004

Sem título

Meninas se gastam todos os dias.
Suspiram estilhaçadas todas as noites.
Meninas adoecem com olhar distante depois de muitos excessos.
Gargalham entre goles de cafés em alguma delicatessen da Zona Sul.
Tem roupas e sapatos demais.
E nenhuma resposta.


Perto, tanto que esta náusea, constante,
Lutos mantidos por meses, em silêncio
esperam corvos disfarçados
Flores negras imitam veludo e secam nas golas dos casacos
Tão fácil escrever passadismos darks
Tão fácil cantar o degredo
Estou farto desta corte ao mais escuro
A esta ausência de luz.

O que eu vejo
Entre as bocas e mãos e corpos
É um tanto de luz desperdiçada
Uma possibilidade latejante de alguma verdade
Atrás de fáceis personagens e graves expectativas
De preenchimento.


Leio livros no chão, perto da pequena estante.
Tenho saudade profunda de uma época que desconheço.
Busco transcendência enquanto caminho por ruas antigas.
Gastei meus retratos 3X4 em fichas de clubes sem importância
Todo cálice vulgar que recusei, foi-me creditado e
Mesmo assim
Sem buscar defesa, calei-me
A maledicência sempre é
De alguma estranha forma
O rosto verdadeiro e desfigurado
De quem acusa

Muitos, cegos de estupidez
Caminham
Salivando
Rangendo
Suas velhacarias
Suas pequenas misérias
Covardias
Mediocridades
E eu me mantenho
Aquele que socorre
ao mesmo amor que guerreia
E que roí meus calcanhares
O verme sendo estrela
A estrela sendo verme
Tantos disfarces
Para o mesmo rei nu

Nascemos no tempo certo
Mesmo que meninas e meninos
Mães e pais,
Irmãos
Amigos
Nos sussurrem os pontos errados
As falas equivocadas
Os conselhos temerários

O que eu vejo
E que nunca pude confessar
As canções que cantei em um ouvido desmaiado
As promessas que fiz à carne macia do algoz
É este excesso de brilho em todas as coisas
Esperando um toque, um toque apenas
Uma coragem que não se diz.
De liberdade sem sangue nas mãos
Nobre
Eu vejo milagres nas brechas
No silêncio antes do fim.