Tua mão brilha em meu ombro, molhada de suor. Sinto gosto de terra na boca, mas sorrio. Olhamos para cima, você brinca ao apontar um pouco de céu entre as árvores, alguém ri de alguma coisa que não consigo entender preocupado que estou em manter algum ar nos pulmões, seu rosto tem um quê de moleque quando pisca o olho e aponta um atalho, você me faz cúmplice sem saber que é exatamente isso, precisamente isso que preciso ao subir. Eu ainda penso nas palavras que usaria para descrever este jeito de segurar as coisas com força, tua mão em meu ombro me conforta sem que precise olhar para trás. Você está atento quando estico meu corpo para o próximo passo em direção ao alto da colina. Mantenho-me em silêncio, consciente do esforço do músculo, do fascínio de ser concreto, tornar a ser carne e movimento. Esqueço-me dos antigos rangidos da máquina dentro do peito. Retorno como se começasse a nascer do escuro em que me mantive, como certos bichos que dormem quando seco demais. Atravessei um deserto dentro, não confesso, você desconfia? suspeita? pressente? Mas aceito o peso de tua mão em meu ombro como a de um companheiro que me reapresenta o mundo e diz: bem-vindo.
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