"Escrevo para não gritar" *
(* frase de Caio Fernando Abreu no conto Marinheiro)
“quando soltaram os cachorros loucos
eu estava fazendo chá
de ervas do campo
e de repente o espanto
tremendo a chaleira
e bombeando medo
larguei as ervas e danado
precipitei-me à janela
de onde vi
enormes matilhas
com olhos cheios de negra espuma
a espuma invadia a rua
e abraçava postes, que caíam
cheios de óleo e náusea
engolia as pessoas
que alucinadas
enchiam o ar de berros
depois os cachorros loucos foram embora
eu voltei ao meu chá
e lá fora a solidão
e uma flor quase despercebida ”
(Henrique do Valle: Uma Flor num Buraco de Calçada)
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