Sacre Coeur
"Deus é mais belo que eu.
E não é jovem.
Isto sim, é consolo." (Adélia Prado, Parâmetro)
Igreja. Entra e fica assim, absorta, cheirando o antigo, tentando desvendar um enigma sem nem mesmo pensar o motivo de querer um, vontade de mistério apenas, talvez seja. Evita as pessoas no caminho, olhando para longe, um atrás delas, pessoas, estranho, como se não visse mesmo ninguém, mas quem interessa hoje? Entra, senta na cadeira de madeira quase negra, no enorme salão mal iluminado, não se persigna, não se atreve, aumenta o volume da música no ouvido, que fala da idade do céu, é assim mesmo que quer, distante e antigo, esse momento. Procura as velas acesas, repara os entalhes nas paredes, o rosto esculpido em dor eterna, sente uma pena enorme dos santos, uma inveja também, eles parecem saber ou sentir tão nitidamente a presença deste Algo Maior, santos têm dúvida? Pára de questionar santos, acha bobo, quase sorri, apenas balança a cabeça. Deixa que o cabelo cubra o rosto, fecha os olhos um pouco, quer adivinhar séculos e séculos de preces e pedidos e súplicas, mas depois desiste.
Começa a cair, sente-se caindo, dentro do Grande Silêncio de si mesma. Sente, então, a Falta, a Ausência, quase insuportável, de alguma coisa, de alguém, de várias coisas e alguéns talvez, como o nome daquela peça, como o que ele quis dizer antes de ir embora e não disse, nesse oco, nesse vago dentro do peito ou da alma (mas não quer pensar nela, alma, não agora). Suporta a dor de perceber-se, no calado, na penumbra, cercada por imagens, idéias de redenção-martírio-sacrifício, sobre um Amor Maior, que lhe parece tão escuro, tão sombrio. Fecha o casaco, sente um frio súbito quando pensa que talvez seja mesmo isso, amor-renúncia-êxtase, uma solidão única de amar o incompreensível, o incomum. E suspeita, descendo os degraus de pedra cinza, que amar gente não é diferente.
E não é jovem.
Isto sim, é consolo." (Adélia Prado, Parâmetro)
Igreja. Entra e fica assim, absorta, cheirando o antigo, tentando desvendar um enigma sem nem mesmo pensar o motivo de querer um, vontade de mistério apenas, talvez seja. Evita as pessoas no caminho, olhando para longe, um atrás delas, pessoas, estranho, como se não visse mesmo ninguém, mas quem interessa hoje? Entra, senta na cadeira de madeira quase negra, no enorme salão mal iluminado, não se persigna, não se atreve, aumenta o volume da música no ouvido, que fala da idade do céu, é assim mesmo que quer, distante e antigo, esse momento. Procura as velas acesas, repara os entalhes nas paredes, o rosto esculpido em dor eterna, sente uma pena enorme dos santos, uma inveja também, eles parecem saber ou sentir tão nitidamente a presença deste Algo Maior, santos têm dúvida? Pára de questionar santos, acha bobo, quase sorri, apenas balança a cabeça. Deixa que o cabelo cubra o rosto, fecha os olhos um pouco, quer adivinhar séculos e séculos de preces e pedidos e súplicas, mas depois desiste.
Começa a cair, sente-se caindo, dentro do Grande Silêncio de si mesma. Sente, então, a Falta, a Ausência, quase insuportável, de alguma coisa, de alguém, de várias coisas e alguéns talvez, como o nome daquela peça, como o que ele quis dizer antes de ir embora e não disse, nesse oco, nesse vago dentro do peito ou da alma (mas não quer pensar nela, alma, não agora). Suporta a dor de perceber-se, no calado, na penumbra, cercada por imagens, idéias de redenção-martírio-sacrifício, sobre um Amor Maior, que lhe parece tão escuro, tão sombrio. Fecha o casaco, sente um frio súbito quando pensa que talvez seja mesmo isso, amor-renúncia-êxtase, uma solidão única de amar o incompreensível, o incomum. E suspeita, descendo os degraus de pedra cinza, que amar gente não é diferente.
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