Catarse das Cores Tintas
Cabeça dá voltas e voltas em torno daqueles olhos vermelhos. Penso em sorrir, passo minha mão por seus cabelos, esqueço depois que os outros aparecem e falam dessas coisas que não me interessam, nunca me interessam. Busco o maço em cima da mesa, pego um cigarro sem pedir licença, assim que a fumaça preenche este vazio de vontade, levanto-me com a desculpa de pegar mais bebida. Estou bêbado, mas não o suficiente para fingir que não sinto os tais, os olhos vermelhos.
Eles me acompanham pela sala, subo as escadas, sinto o calor em meu pescoço, continuam apesar do escuro da pista. Desafio os olhos, endureço meu rosto, elevo meu queixo, e toda essa suposta virilidade não impede a aproximação, eles em mim, vermelhos, tento me desvencilhar, tento pensar que amanhã acordo cedo, ligo para Afonso e combino de vermos a possibilidade de compra das terras, mas nada disso impede que os olhos em mim ardam, de maneira dolorosa. Cedendo, vou entregando os espaços que em mim não cederia sem debater-me, estes vagos onde ainda posso mentir para mim mesmo que amanhã tudo pode ser diferente se ao menos acordasse cedo, e ligasse, se ao menos existisse Afonso ou terras a serem compradas.
Ela aparece, suas mãos agora percorrem meu cabelo, pergunta o que tenho, mais uma, duas vezes, me vasculha com seus olhos brancos, tentando entender, quase odeio sua tentativa, esse esforço em compreender o que desconheço, talvez seja o amor que ela diz sentir, que a transforma nessa mulher irritantemente solícita, mas não respondo, apenas balanço a cabeça, deixo que me beije, um beijo que mascara a ignorância que sempre sentiremos em relação ao outro, percebo, mas isso não me apavora como os olhos vermelhos que parecem se divertir com o que penso, como se pudessem captar meu desalento, meu cansaço permanente. Espero que ela se afaste, volte ao andar de baixo, á mesa e suas conversas inúteis.
Os olhos se aproximam, em vão tento reconhecer rosto, corpo, cheiro: eles maiores que tudo, faróis rubros que nada iluminam, em mim como se apenas eu restasse, atento ou lúcido, o medo sendo embaçado pelo gole último no copo em minha mão. Vou cedendo, lentamente, sem retorno, sabendo que não poderei voltar a impor qualquer limite ao seu domínio. Como se fogo me percorresse as veias, como se mergulhasse em um mar de lava e reconstruísse minha carne, como se parisse de mim, este outro que nunca quis, que sempre busquei, que recusei tantas vezes. Como uma revelação mística, percebo-os agora, agoniado e sozinho, com uma renúncia que desconhecia possuir : os olhos vermelhos. Que são meus, pegados em mim para sempre, para sempre. Rubis incrustados em minha alma.
Eles me acompanham pela sala, subo as escadas, sinto o calor em meu pescoço, continuam apesar do escuro da pista. Desafio os olhos, endureço meu rosto, elevo meu queixo, e toda essa suposta virilidade não impede a aproximação, eles em mim, vermelhos, tento me desvencilhar, tento pensar que amanhã acordo cedo, ligo para Afonso e combino de vermos a possibilidade de compra das terras, mas nada disso impede que os olhos em mim ardam, de maneira dolorosa. Cedendo, vou entregando os espaços que em mim não cederia sem debater-me, estes vagos onde ainda posso mentir para mim mesmo que amanhã tudo pode ser diferente se ao menos acordasse cedo, e ligasse, se ao menos existisse Afonso ou terras a serem compradas.
Ela aparece, suas mãos agora percorrem meu cabelo, pergunta o que tenho, mais uma, duas vezes, me vasculha com seus olhos brancos, tentando entender, quase odeio sua tentativa, esse esforço em compreender o que desconheço, talvez seja o amor que ela diz sentir, que a transforma nessa mulher irritantemente solícita, mas não respondo, apenas balanço a cabeça, deixo que me beije, um beijo que mascara a ignorância que sempre sentiremos em relação ao outro, percebo, mas isso não me apavora como os olhos vermelhos que parecem se divertir com o que penso, como se pudessem captar meu desalento, meu cansaço permanente. Espero que ela se afaste, volte ao andar de baixo, á mesa e suas conversas inúteis.
Os olhos se aproximam, em vão tento reconhecer rosto, corpo, cheiro: eles maiores que tudo, faróis rubros que nada iluminam, em mim como se apenas eu restasse, atento ou lúcido, o medo sendo embaçado pelo gole último no copo em minha mão. Vou cedendo, lentamente, sem retorno, sabendo que não poderei voltar a impor qualquer limite ao seu domínio. Como se fogo me percorresse as veias, como se mergulhasse em um mar de lava e reconstruísse minha carne, como se parisse de mim, este outro que nunca quis, que sempre busquei, que recusei tantas vezes. Como uma revelação mística, percebo-os agora, agoniado e sozinho, com uma renúncia que desconhecia possuir : os olhos vermelhos. Que são meus, pegados em mim para sempre, para sempre. Rubis incrustados em minha alma.
<< Home